sábado, 22 de agosto de 2009



22 de agosto de 2009
N° 16070 - NILSON SOUZA


O oponente

Vem aí um concurso mundial de digitação em celular. A Vanessa Nunes, nossa especialista em tecnologia da era digital, aquela jovem que aparece na foto de apresentação da sua coluna com um laptop na cabeça, tem divulgado seguidamente as regras da competição de SMS, que é como são chamadas as mensagens de texto por celular.

Vai ser interessante ver a garotada com os polegares acelerados na busca das letrinhas. Quem diria que o dedo opositor, que nos diferencia dos outros animais, acabaria sendo tão decisivo para a comunicação moderna?

Sempre me orgulhei de digitar com os 10 dedos sem olhar para o teclado, técnica adquirida em exaustivas aulas de datilografia com as letras cobertas por uma cartolina.

Quando passei da máquina de escrever para o computador, as teclas sensíveis me possibilitaram ainda mais agilidade. Mas no celular não sou mais do que um catador de milho, como se dizia antigamente para os escribas que ficavam procurando letra por letra.

De vez em quando, respondo até alguma mensagem mais urgente, mas dificilmente vou além do OK, isso quando encontro o miserável do K. O teclado alfabético do celular sequer mantém a ordem que meu cérebro datilográfico decorou.

O dedão, decididamente, não foi feito para isso. A ele devemos a nossa capacidade de empunhar uma ferramenta, dirigir um carro, tocar um violino ou enfiar a linha na agulha. O progresso humano está diretamente relacionado com esse oponente que na verdade é o nosso maior aliado.

Chega a me parecer uma crueldade exigir do polegar mais esta tarefa de selecionar minúsculas letrinhas enquanto seus pares – os outros dedos – simplesmente seguram o equipamento.

Mas a garotada não está nem aí para esse tipo de questão filosófica. Crianças e adolescentes utilizam o dedo oponente com tanta naturalidade e frequência que já existem até estudos comprovando uma mutação importante nas novas gerações. Seus polegares são mais fortes e mais ágeis.

Estão prontos para qualquer competição. Em concurso semelhante realizado recentemente nos Estados Unidos, uma garota de 15 anos – que costuma enviar 14 mil torpedos por mês – ganhou um prêmio de US$ 50 mil, digitando mais rapidamente e com menos erros do que os demais concorrentes, todos com menos de 22 anos.

Então, a garotada que prepare os seus dedões. Pelo menos estarão escrevendo. O máximo que me cabe neste embate é emitir um OK de aprovação. Se achar o danado do K.

Nenhum comentário: