sábado, 22 de agosto de 2009



23 de agosto de 2009
N° 16071 - DAVID COIMBRA


Por que não votar neste domingo

Direi agora por que não vou votar no plebiscito deste domingo. Não é porque vou à missa, que domingo é dia de ir à missa. Nunca vou à missa. Até já fui. Uma vez, numa reunião dançante, tinha lá uma loirinha.

Sandy.

Sim, Sandy. Olhos azuis, como devem ser os olhos das loirinhas. Delicadas sardas nas maçãs do rosto. Mas o que eu mais gostava nela eram as pernas. Compridas. Fortes. Macias. Duas pilastras de carne tenra. Sandy vivia de minissaia. Eu olhava para aquelas pernas douradas e pensava:

– Ououou, Sandy...

Bem. Naquela reunião dançante calhou de eu ficar o tempo todo dançando com ela. Lentas, claro. Elton John. Johnny Rivers. Do you wanna dance and hold my hand... Pressionava suavemente as costas de Sandy, enfiava o nariz em seu cabelo da cor dos trigais e sentia seu cheiro de loira. Estava ali, flutuando pelo salão, e de repente ela entreabriu os lábios úmidos e sussurrou ao lóbulo da minha orelha direita:

– David...

Um arrepio escalou-me a coluna ao ouvir meu nome ser pronunciado por Sandy. Ah, ela dizia meu nome enquanto dançava agarradinha comigo. Murmurei, em resposta:

– Sandy... Ela:– David...

Eu: – Sandy, Sandy... – David...– Sandy, Sandy, Sandy, Sandy...

– Quero te fazer uma pergunta, David!

– Ah. O que é, Sandy? – O que tu vais fazer amanhã de manhã?

A manhã seguinte seria domingo. Nunca via as manhãs de domingo. Dormia enquanto elas estavam acontecendo. Mas é claro que, por Sandy, toparia acordar cedo para fazer um programa qualquer. Decerto ela queria me convidar para um piquenique, algo assim. Então respondi:

– Não vou fazer nada, Sandy. Ela:

– Quer ir à missa comigo?

Putzgrillvrcktzrntyensbvrt@f!$w&@()!!!

No dia seguinte, oito horas da manhã, lá estava eu sentado no banco de madeira, cantando:

– Louvado seja o meu senhooooooor...

O que um homem não faz por uma loira dourada...

Por uma morena também. Depois de Sandy, foi Alice, cabelos e olhos nigérrimos, pele cor de canela, quem me arrastou para a igrejinha em frente ao Alim Pedro. Ela era do Onda, aquele grupo de jovens católicos. Eu ia vê-la no Onda. Eles sentavam-se em roda e tocavam violão e cantavam para Jesus Cristo:

Eu tenho tanto pra te falar Mas com palavras não sei dizer...

Depois daquela experiência, passei a gostar um pouco menos de violão.

Portanto, não irei à missa, neste domingo. Domingo também é dia de galinha com arroz, minha avó sempre fazia galinha com arroz aos domingos. Como no caso do violão da igreja, isso igualmente me traumatizou. Não sou um entusiasta de pratos com galinha. Logo, nada de galinha com arroz neste domingo.

Aos domingos as pessoas assistem a programas de auditório na TV, mas basta ouvir o som de um desses programas para me deprimir. Domingo é mesmo um dia melancólico, com sabor de fim de festa. O que fazer? Irei ao jogo do Grêmio, isso as pessoas fazem aos domingos, e farei também.

Estou curioso para ver como a torcida vai recepcionar Celso Roth. E curioso para saber como Celso Roth enfrentará seu ex-time. Presumivelmente, ele conhece as frestas por onde o Atlético pode se infiltrar Grêmio adentro e, assim, vencer a partida.

Mas o jogo é às quatro da tarde, poderia votar, se quisesse. Não quero. Porque esse plebiscito não decide nada – já está decidido que só vão ser construídos prédios comerciais no Pontal. Também não é referendo para nada – se alguém quiser mudar as regras de construção na orla do Guaíba, terá de enfrentar todos os trâmites legais de novo.

O plebiscito não passa de um capricho político da prefeitura. Uma veleidade que custa mais de meio milhão de Reais, importância que poderia ter levantado um posto de saúde ou melhorado as condições de dezenas de escolas. Por isso, o meu não-voto.

Não fazer, cruzar os braços, não falar, tudo isso pode ser um protesto. Quero que esse plebiscito seja um fracasso. Quero dizer a quem articulou esse plebiscito que eu o desaprovo – ao plebiscito.

Que acho um desperdício, quase uma afronta. O não-voto às vezes é mais eloquente do que o voto. É um grito. Não votarei para senador, não votarei no plebiscito de hoje, não irei à missa, não vou comer galinha com arroz e muito menos assistir a programas na TV. Vou ao jogo do Grêmio. Antes ver o Celso Roth do que endossar a demagogia.

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