quinta-feira, 13 de agosto de 2009



13 de agosto de 2009
N° 16061 - PAULO SANT’ANA


A boneca inflável

Anteontem, o sol amanheceu radiante sobre Porto Alegre e prenunciava ser constante todo o dia.

Como foi o rompimento com muitos dias de chuva intensa, ocorreu um fenômeno impressionante no trânsito da cidade: o engarrafamento total, que antes era parcial, nas principais avenidas.

É que houve um fenômeno frequente nessas ocasiões: saem para as ruas todos os carros, até mesmo aqueles dirigidos por pessoas que durante os períodos intensos de chuva se recolhem no âmago dos lares, os aposentados, as que só são donas de casa, os estudantes em férias etc.

É o caso em que o engarrafamento é bem-vindo, por trás dele está o sol abundante, para todos, gratuito.

Tenho um amigo, ao redor de 70 anos de idade (estou numa fase em que meus amigos todos têm ao redor de 70 anos ou então são filhos de quem anda ao redor dos 70 anos), que foi visitar-me no hospital.

Disse-me que seu neto, de 11 anos de idade, pediu de uma viagem de meu amigo aos EUA que lhe fosse trazida uma boneca inflável.

Devem saber todos os leitores que existem bonecas de plástico inflável com que os homens fazem presumivelmente sexo.

Da minha parte, se já não tenho energia para fazer sexo com as mulheres de verdade, sinto-me completamente impotente para sequer acariciar uma boneca de plástico.

Pois bem, meu amigo embarcou para os EUA e lá se dirigiu, com a finalidade de comprar a encomenda de seu neto, para um sex shop.

Lá nos EUA, existem supermercados de material de sexo. Meu amigo chegou a sentir-se ridículo dentro daquele supermercado sexual, empurrando um carrinho, se o vissem os conhecidos daqui haveriam de troçá-lo.

Meu amigo levou duas horas escolhendo a boneca inflável de seu neto, entre centenas à mostra nas prateleiras.

Finalmente meu amigo passou com o carrinho na caixa, pagando US$ 40 pela boneca do seu neto e US$ 400 por uma boneca para ele próprio.

Disse-me no hospital o urologista Henrique Sarmento Barata que o herpes é uma das doenças oportunistas, quando o organismo está com suas defesas enfraquecidas ele se instala como um sorrateiro posseiro.

O herpes, agora falo eu, é uma doença antiga com nome moderno. O nome antigo era cobreiro.

Não havia antigamente remédio para cobreiro. Ele era tratado pelas benzedeiras. E estranhamente as benzedeiras obtinham sempre sucesso no tratamento do herpes, faturando muito bem na cobrança em dinheiro para suas benzeduras.

O truque das benzedeiras era o seguinte: o herpes dura somente em média uma semana, depois se vai embora como veio, de repente.

O que se pensava fosse um sucesso das benzedeiras não passava do prazo de validade para o herpes, que é em torno de sete dias.

Pois bem, mas agora o truque é diferente: desapareceram as benzedeiras, mas existem no mercado farmacêutico várias pomadas anti-herpes. E são caríssimas.

Ou seja, cobram-se fortunas por pomadas que são inúteis, basta esperar em torno de sete dias, sem pomada ou sem benzedeira, que o herpes desaparece.

Mas ralam-se os pacientes de cobreiros e herpes em todas as épocas. Sempre houve e há benzedeiras e laboratórios farmacêuticos para explorá-los.

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