Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
20 de agosto de 2009
N° 16068 - LETICIA WIERZCHOWSK
Arrazoado dos últimos dias
Faz duas semanas, passei alguns dias no Uruguai. Lá, como aqui, as pessoas estão acossadas pelo H1N1. Com uma diferença: não importa em qual tipo de estabelecimento comercial a gente entre – farmácia, supermercado, livraria ou restaurante – todos oferecem o indefectível gel antisséptico aos seus clientes.
Você entra e, num balcão ou mesinha, lá está o convite mudo à higiene. Em uma importante rede de supermecados, surgiu até mesmo um novo tipo de cargo: a cada meia hora, circula pelo estabelecimento o funcionário encarregado de distribuir o álcool gel nas mãos de todos os atendentes e caixas. Havia antes a senhora do cafezinho. Agora existe também o menino do gel.
O fato é que, de repente, somos obrigados a encarar a vida na sua dimensão microscópica, e passa a ser necessário considerar trincos de portas, aparelhos telefônicos e corrimãos de escadas com uma gravidade que outrora nos pareceria obviamente ridícula.
Mãos limpas viraram uma espécie de paranoia fundamental – se você não tem filhos, não sabe exatamente o que é isso. Aqui em casa, sou responsável pela higiene de dois pares de mãos, além das minhas próprias.
É muita responsabilidade, ainda mais sabendo que o vírus está à espreita, louco para saltar, da superfície desses tenros dedinhos inquietos, para dentro do corpo morno e úmido das minhas adoráveis crianças. A saída seria contratar aqui em casa um desses meninos do gel. Ok, talvez o álcool tenha me subido à cabeça, tal extravagância não caberia no meu orçamento.
Agora, falando sério: o que fazer com dois meninos cheios de energia nesses longos dias de reclusão? Jogamos general e estouramos muita pipoca.
Reunimos os amigos em casa. Lavamos as mãos. Depois, fábulas, videogame, tricô, carrinhos de corda e música para uma dança no meio da sala de estar. E novamente visitamos a pia do banheiro. Se o sol aparece, vamos ao parque dar comida aos patos. Na volta pra casa, vocês já sabem...
E entre sonecas, filmes infantis e e-mails profissionais, encontro a narrativa da irlandesa Edna O’Brien em Luz da Noite. A história da incomunicabilidade entre uma mãe e sua filha no interior da Irlanda.
Termino o livro com gosto e, de mãos limpas, sugiro-lhes Luz da Noite. Um belo romance de uma escritora cujos livros feriram seus compatriotas por causa de certas descrições, digamos, indiscretas.
Aqui no Brasil, Edna O’brien ficou mais conhecida por tirar uma onda do Chico Buarque durante a última Flip. Aconselho obliterar seus comentários sobre o nosso intocável ídolo de olhos verdes, e mergulhar na sua mui inquietante literatura.
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