quarta-feira, 26 de agosto de 2009



26 de agosto de 2009
N° 16074 - PAULO SANT’ANA


Não há vagas

Atenção, executivos, submeto-me a uma cirurgia nos próximos dias, preparem depressa um plano B: porque os emergentes, interinos etc. já não cabem mais em si de aflitos.

A todos que me perguntam, parece-me que são milhares, como estou, respondo com um clichê criado por mim: “Há gente que está pior”.

Manchete de ontem à tarde nas rádios: “Governo estadual paga última parcela da Lei Brito e apela aos funcionários para que não peçam aumento”.

Pode deixar, não precisa se preocupar, os barnabés estaduais, acostumados com decênios de arrocho salarial selvagem, vão se organizar para pedir em passeata redução nos seus vencimentos.

Afinal, contada a inflação, não tem sido feita outra coisa com esses pobres servidores nos últimos tempos.

Um homem desesperado telefonou para um amigo seu, alto funcionário de um hospital, pedindo uma vaga para um seu parente, que estava com sério perigo de morte, doença vascular.

O diretor do hospital disse que vagas em hospitais para pacientes são regradas por um centro que coordena as vacâncias hospitalares. Aconselhou seu amigo a telefonar para aquele centro.

O homem aflito explicou para o diretor do hospital que já telefonara para o centro de vagas do SUS e lhe responderam que não havia vagas:

– Por isso, exatamente, é que estou te pedindo uma vaga: porque não há vagas. Se houvesse vagas, eu não te telefonava.

E a madrugada quase trágica foi decorrendo, se espichando, o paciente, sem consciência, não sabia que seu destino estava se decidindo pela burocracia infame que controla as vagas: há 10 pacientes, no mínimo, aguardando por cada vaga respectiva.

O Brasil, imagino, é recordista mundial, junto, é claro, com vários países africanos, em falta de vagas nos hospitais.

E nos presídios, que, por falta de vagas, estão soltando ou não prendendo os presos!

Toda a problemática social de um país deve ser medida pelas vagas que ele oferece a seus cidadãos.

Vagas de empregos, vagas de hospitais e vagas nos presídios.

Governar é em suma abrir vagas. O resto é conversinha.

Levei da Farrapos até o Iguatemi, de táxi, às 18h30min de ontem, cerca de 60 minutos para cumprir o trajeto.

A Sertório e a Assis Brasil e respectivas transversais estavam completamente engarrafadas. Supus que outras importantes artérias da cidade estavam também esgualepadas.

Enquanto patinava no táxi, calculei que, àquela hora, um carro que se deslocasse da Restinga até o Bairro Sarandi levaria quase duas horas, senão mais, para percorrer aquela distância.

Ora, duas horas é o tempo que se leva de Porto Alegre a Estrela, a Bento Gonçalves, a Caxias do Sul.

Quem avisa amigo é: não adianta o secretário de Mobilidade Urbana municipal dizer que não há ameaça de colapso no nosso trânsito, porque ela é palpável.

Enquanto não se organizar que os bancos, as repartições públicas, as autarquias, até mesmo empresas privadas, cumpram um rodízio de horários de funcionamento, abrindo suas portas aos clientes durante a noite e a madrugada, não solucionaremos o problema.

Porque qualquer criança de colégio conclui que engarrafamento é só de dia. Pela noite, o trânsito flui sem qualquer gargalo.

Então, a solução é a cidade funcionar à noite.

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