Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
14 de agosto de 2009
N° 16062 - PAULO SANT’ANA
O ceguinho do Odeon
O Bar Tuim, na Rua General Câmara, onde ela conflui com a Rua Andrade Neves, é um dos sacrários humanísticos da cidade.
Digo humanísticos porque todas as humanidades são dissecadas pelos presentes em suas mesas repletas de bolachas de chope, nas suas conversas imparáveis.
Há uma mesa que é comandada formalmente pelo jornalista Wanderley Soares e informalmente pelo radialista Lauro Pons, o Laurinho, filho do saudoso Cândido Norberto. O Wanderley disciplina a roda e a mesa e o Laurinho as esculhamba.
Passei várias horas no Bar Tuim quando saí do hospital, eu estava sedento de convívio e fui lá para me empanturrar de afeto.
Entre tantas preciosidades que ouvi na roda e mesa de conversa do Tuim, houve uma que me comoveu.
Acontece que se conta sobre o Ray Charles, o grande cantor negro e cego norte-americano, que certa vez o entrevistaram e fizeram a seguinte pergunta ao gênio da música pop: “O senhor tem algum trauma por ser cego?”.
E ele respondeu: “Nada disso, não me perturba ser cego, eu teria trauma se fosse negro”.
E, na roda do Bar Tuim, surgiu-nos uma história praticamente igual a esta, porém com tintas mais saborosas.
É que na roda contaram um fato ocorrido no Bar Odeon, que dista apenas cem metros do Tuim e é outro templo das rodas de bate-papo e aperitivos da cidade.
O dono do Bar Odeon, o Beto, deu uma ordem para seu garçom, um negro de quem não me lembro o nome, mas digamos que seja o Fabião.
Ali no bar, determinou o dono ao garçom negro, não poderia entrar nenhum pedinte, nenhum vadio, nenhum inconveniente, nem vendedor de qualquer espécie. Se entrasse algum tipo desses, teria de ser imediatamente posto na rua.
Mas esses bares pequenos de grande público têm uma característica: ou possuem um só garçom, como o Odeon, ou nenhum garçom, como o Tuim, onde o dono ou o copeiro servem nas mesas.
E o garçom negro do Odeon não dava conta de cuidar das mesas e da porta para que não entrasse nenhum desocupado ou esmoleiro.
E entrou no Bar Odeon um cego, com bengala à frente.
O dono do bar, imediatamente, com o cego já abordando a primeira mesa para tentar vender seus bilhetes de loteria, mandou que o garçom negro retirasse imediatamente o intruso.
E o garçom negro disse para o cego: “Sai daqui do bar, agora. Isso aqui não é lugar para pedintes ou vendedores. Já para a rua!”.
O cego sentiu o golpe, mas reagiu à altura de um deficiente que possui dignidade “Não é por aí, negão!”.
Até hoje, no Tuim e no Odeon, ninguém sabe como é que o cego, que nunca tinha ido àquele bar, sabia que o garçom era negro.
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