quinta-feira, 27 de agosto de 2009



27 de agosto de 2009
N° 16075 - PAULO SANT’ANA


Filhos indesejados

Tenho observado atentamente as vidas dos jovens casais que não são casados.

Sob certo aspecto, esses jovens casais obedecem ao meu conselho de que não devem amanhecer na mesma cama. Se possível, devem morar em casas diferentes.

Eles vão vivendo seus romances muitas vezes durante cinco ou sete anos. No entanto, a maioria dessas relações termina em meses.

O ponto a que eu queria chegar, entre as várias faces desses conúbios entre dois jovens de sexos diferentes, é a notícia de que a moça está grávida.

O auspício de que em breve ele será pai e ela mãe muitas vezes serve para uni-los ainda mais. Eles até celebram o casamento, vão morar juntos etc.

Ocorre no entanto que, outras muitas vezes, a notícia de que terão um filho, em vez de uni-los, separa-os definitivamente.

Quase sempre, quem refuga a relação quando aparece um filho é o homem, esse eterno fujão peregrino, que rejeita responsabilidades.

A mulher segue em frente, às vezes desamparada. Vai criar seu filho, depois aparece a história da pensão alimentícia etc., embora as mulheres de hoje sejam tão independentes, que por questão de dignidade recusam-se a aceitar pensão alimentícia.

Mas deixemos de perfumarias e voltemos ao fulcro da questão: o filho que surge depois de algum tempo de relação.

Há filhos bem-vindos e há filhos malvindos. Eu, por exemplo, fiquei sabendo por várias assistentes sociais que, na grande maioria, os filhos das pessoas muito pobres ou miseráveis são malvindos, indesejados: eles vão servir apenas de encrenca econômica e financeira para os casais desassistidos.

Eu sei de uma história de uma prostituta, a profissional que menos deseja ter um filho, justamente por não saber quem é o pai.

A prostituta ficou grávida e quase enlouqueceu. Não se perdoava.

Mas não era pelo filho que ela não se perdoava. Era por ela mesma.

Explico: não sei por que cargas d’água, ensinaram a essa prostituta, erradamente, que todo feto de mulher grávida foi concebido se a mulher teve prazer, ou melhor, orgasmo, no congresso carnal respectivo.

Disseram para ela: se tu gozares, pode nascer um filho.

E, desse caso que eu fiquei sabendo, disseram-me que a mulher não só se desesperou porque não cumpriu à risca o mandamento profissional de não gozar, como desconhecia quem era o pai de seu feto, isto é, tinha completa dificuldade em identificar o cliente com quem ela tivera um orgasmo: queria saber quem ele era para procurá-lo outra vez e ter outro orgasmo com ele. Dessa vez, sem punição, pois já estava grávida. Sem punição, mas com consciência.

Vejam como são as coisas na vida. Uma mulher culpando a si própria por abrigar em seu ventre um filho, que além de indesejado, sem pai conhecido, era fruto de um prazer que ela não sabia que tinha tido, nem com quem.

Por isto, eu digo sempre, amparando-me nos ditados célebres e sábios: o mundo dá tantas voltas, o tempo é o senhor da razão, aqui se faz e aqui se paga e a banca do cassino paga e recebe.

E com esta frase termino minha coluna, porque tenho de tomar meus remédios, preparando meu corpo e meu espírito para a cirurgia que vou fazer daqui a dias, na qual, cada vez mais me convenço, me safarei da doença mais temerária que tenho entre as quase uma dezena de outras.

E as outras eu depois curarei com menor dificuldade.

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