terça-feira, 18 de agosto de 2009



18 de agosto de 2009
N° 16066 - LUÍS AUGUSTO FISCHER


Pensar a cidade, de novo

Em texto saído dias atrás no caderno Cultura, apresentei uns palpites sobre aspectos paisagísticos, urbanísticos e arquitetônicos da cidade. (Releio a frase e paro, pensando em reescrevê-la, pelo pomposo que ficou na linha de adjetivos, a sugerir que o texto era grande coisa, e não era.) Contei de um ciclo de debates do Instituto dos Arquitetos do Brasil, seção estadual, e do que lá ouvi.

Recebei reações variadas. Algumas muito positivas, por telefone, email e ao vivo mesmo – eu na fila para ser atendido para exame, num hospital, e me saúda um arquiteto experiente, cujo nome minha timidez impediu que eu solicitasse na hora. Outras negativas, bem negativas; duas merecem comentário.

A primeira veio de um velho amigo, que não quis vir a público para debater, talvez por delicadeza. Disse ele que eu devia ter mencionado o projeto que se chamou Cidade Constituinte, levado a cabo na gestão de Tarso Genro na prefeitura, em 1993, porque ali se discutiu a cidade, seu presente e seu futuro.

De fato, aquele evento teve méritos; mas meu amigo atribui a ele virtudes que me parecem excessivas. Que tenha ali havido debate, sim, como antes e depois dele; meu ponto era enfatizar a falta de debate nos últimos tempos e, se quiser, a falta de eco, a falta de organicidade dos debates. (Em outros casos vem à luz o tema, como agora, no torto debate sobre o pontal do Só – sim, eu também sou contra construir ali para fins privados, falando nisso.)

No sábado, o veterano arquiteto Luiz Frederico Mentz mandou uma educada carta para o Cultura, fazendo reparos ao meu comentário. Ele merece todo o respeito, a começar por sua venerável idade e sua disposição para o debate; mas dois de seus reparos não me convencem.

Um, que muita gente estava envolvida na decisão de não alocar a UFRGS no aterro do rio, e não apenas o reitor de então; por mim, isso significa apenas que mais gente se enganou, e não que a escolha do lugar para o novo campus da universidade tenha sido acertada.

Dois, ele me considera incapaz de entender a expressão arquitetônica dos medíocres blocos de prédios do Campus do Vale, argumento de autoridade que não serve para conversar, porque sugere que só os técnicos é que sabem avaliar bem o tema, na matéria de que tratamos.

Aliás, no urbanismo, na arquitetura, como nas artes e no debate público em geral, a palavra precisa estar à disposição para todos, ainda quando aspectos técnicos estejam envolvidos. E segue a conversa.

Nenhum comentário: