quarta-feira, 19 de agosto de 2009



19 de agosto de 2009
N° 16067- PAULO SANT’ANA


Boletim médico

Chegou via internet o parecer dos EUA e, nas mãos do comitê que cuida de minha saúde, decidiu ele que me submeterei a uma delicada cirurgia da abertura de crânio nos próximos entre sete e 10 dias.

Eis-me outra vez diante de outra cirurgia, foram tantas, que nem mais me lembro quantas.

Na verdade, em toda a extensão de meu corpo, existem males dos quais teriam de se incumbir cerca de 1.500 cirurgiões:

Tome doutor esta tesoura e corte
Minha singularíssima pessoa.
Que importa a mim que a bicharia roa
Todo o meu corpo depois da minha morte.

Acontece no entanto que são tão hábeis os cirurgiões e é tão grande o avanço da ciência, que, em face da minha ligação e fé em Deus, sei que na semana que vem, logo após a cirurgia, recuperando-me da ação da serra, da broca e do bisturi, estará fixado no meu quarto de hospital o seguinte cartaz:

Como um caboclo bem rude
Eu vivo aqui nesta paz
A recobrar a saúde
Que eu esbanjei quanto pude
Nas tonteiras de rapaz.

A cirurgia a que me submeterei é delicada porque, depois de abrir meu osso mastoide, o cirurgião penetrará com seu instrumento pela minha cabeça até o labirinto, órgão do ouvido médio.

Por entre as estalactites dos equipamentos auditivos, procurará a imensa fístula (buraco) que foi acusada no exame radiológico.

Suponho eu, em minha leiga opinião de paciente, que o cirurgião desbastará a circunferência da fístula e depois tapará o buraco com um pó ósseo que ele retirará talvez de minha mastoide.

Vou para mais esta cirurgia com os seguintes sentimento e convicção: tenho dito sobre o time do Grêmio que ele me dá esperança mas não me transmite fé.

Pois vou para esta cirurgia com esperança e também com fé. Esperança, porque as mãos hábeis do cirurgião que me indicaram e escolhi são as mais hábeis do nosso meio.

E vou com fé, porque não há de ser nesta hora, em que vivo o período mais apetitoso da minha vida (é isto, sim, o que significa paradoxalmente a terceira idade), que me reservaria o destino e Deus a oportunidade de morrer ou restar inválido.

Vou me salvar, vou voltar às delícias da vida, à incomparável ventura de escrever esta coluna e receber, vindas de todos os recantos gaúchos e algumas infrequentes vezes do país e do Exterior, as manifestações mais generosamente reconhecidas de tantos e tantos leitores.

Vou me salvar. Como disse o Zagalo, vocês vão ter de me aguentar.

Enquanto espero a faca, vou comemorando meus êxitos. Escrevi aqui há uns 70 dias que todos os deputados estaduais albergueiros (que mantinham albergues em Porto Alegre para pacientes que vinham de suas regiões no Interior e eram atendidos nos hospitais de Porto Alegre, órfãos de abrigo do poder público), repito, escrevi aqui que todos seriam absolvidos pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Os ministros concluíram não ser crime eleitoral o que praticaram os quase 10 absolvidos, concordando com os argumentos desta coluna.

Argumentei eu daquela vez: se for crime eleitoral um parlamentar ajudar os cidadãos em geral ou até mesmo seus eleitores, então todos os parlamentares tinham de ser cassados, tantos são os apelos de socorro diário dos cidadãos aos políticos.

Mais um vaticínio arriscado desta coluna que se consuma.

Parabéns ao Superior Tribunal de Justiça.

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