terça-feira, 18 de agosto de 2009



18 de agosto de 2009
N° 16066 - MOACYR SCLIAR


Não é contra o fumante, é contra o fumo

A lei que, em São Paulo, proíbe o fumo em lugares fechados veio em momento oportuno, por causa da pandemia de gripe. Segundo o Centro para o Controle de Doenças dos EUA, fumantes têm maior suscetibilidade ao vírus da gripe e, uma vez gripados, a letalidade entre eles é maior. Fumantes passivos, especialmente crianças, também têm um risco maior de infecção pelo vírus.

E o tabagismo é causa maior de internações hospitalares, o que, além de causar enorme sofrimento e incapacidade, sobrecarrega e onera o sistema de saúde, sobretudo num momento em que há carência de leitos e de recursos.

É impressionante – não encontro outra palavra – o apoio à lei. Pesquisa Datafolha aponta que 88% dos paulistas a aprovam. Mais que isso: fiscais visitaram 7.428 estabelecimentos e constataram que a adesão atingiu 99,2%.

Fica claro que a lei nada mais faz do que, democraticamente, interpretar a vontade de uma esmagadora maioria. Em SP, até os terreiros de umbanda estão abolindo o fumo que fazia parte do ritual, e, no sábado, ZH (debates@zerohora.com.br) recebeu 15 cartas sobre o tema, 14 delas a favor da proibição.

É claro que nem todos ficaram satisfeitos com a medida. A associação de restaurantes e bares anunciou que haverá desemprego no setor. Por outro lado, pessoas se manifestaram contra o que consideram uma violação da liberdade dos fumantes.

A pergunta que se impõe é: existe mesmo a liberdade do fumante? Até que ponto é livre a pessoa que têm uma verdadeira dependência química em relação às substâncias contidas no tabaco?

Todos aqueles que fumam e que se esforçam por deixar o hábito podem comprová-lo. Neste sentido, a lei, e também o risco da gripe, pode funcionar como uma medida adicional para combater o tabagismo.

Mas numa coisa os fumantes estão certos: não há nenhuma razão para hostilizá-los, mesmo porque, de acordo com a enquete, nada menos que 71% deles apoiam a lei. É preciso ficar claro: a campanha deve ser feita contra o fumo, não contra os fumantes, que são o elo fraco de uma poderosa cadeia, montada ao longo do tempo e visando exatamente a isso, a induzir as pessoas ao tabagismo.

Exceto quando, de maneira irrefletida, resolvem transformar o fumo numa causa, os fumantes são vítimas, não vilões.

A experiência internacional comprova que leis como a de São Paulo ajudam as pessoas a tomar conhecimento do problema, a romper o automatismo psicológico e químico embutido no hábito de fumar. O que pode ser um passo importante para a completa erradicação de um tremendo problema da saúde pública e da saúde individual.

A palavra “Bolt” tem, em inglês, muitos significados, e entre eles está “raio” e “flecha”. No caso desse espantoso corredor que é o jamaicano Usain Bolt é, portanto, um nome que condiciona destino.

Nenhum comentário: