sábado, 29 de agosto de 2009



30 de agosto de 2009
N° 16079 - PAULO SANT’ANA


Megalomania e insegurança

Não sei se o pensamento a seguir transcrito embute uma verdade, mas estou meditando bastante sobre ele: “É melhor morrer crendo do que viver duvidando”.

E me inclino a adotá-lo.

Eu não concordo em largar o cigarro, mas se aparecer uma mente brilhante que me argumente lucidamente sobre a vantagem que terei deixando de fumar, cedo e faço o sacrifício da renúncia a esse prazer, digamos assim, quase incomparável.

Acho mesmo que só largaria o cigarro se me ressurgisse de repente, numa esquina da vida, um daqueles templários de priscas eras e me convencesse a substituir o cigarro por algum prazer físico ou espiritual que me fizesse esquecer o cigarro.

Largar o cigarro, só pela substituição.

Substituir o cigarro por um grande amor por exemplo. Será? Mas não será que, arranjando um grande e incontrastável amor, terei, por isso mesmo, nervoso, emocionado e inseguro, que fumar mais ainda cigarros do que hoje repelentemente fumo?

O diabo do cigarro é que a gente sempre arranja para que ele se conjugue com outro prazer, com o cafezinho, com o almoço recém saboreado ou até mesmo nos instantes que se seguem aos jogos de amor bem realizados, entre os lençóis.

Por sinal, os lençóis podem servir como excelente combustível tanto para as labaredas do amor quanto para uma brasa caída do cigarro logo após o intercurso ou durante a irrupção do sono, naquele estado de lassidão e languidez que se sucede ao orgasmo.

Por falar em orgasmo, o que vem a ser ele? É mesmo o ápice da excitação?

Mas, se é o ápice, isso transmite a ideia de que nada melhor há que o orgasmo na excitação.

E, se nada é melhor do que o orgasmo e ele é o ápice, isso não subentende que o orgasmo é também a extinção, o fim da excitação?

E, se o orgasmo é o fim da excitação, se ele extingue a excitação, ele é uma sensação bem-vinda ou malvinda?

Digo isso porque o ideal seria que a excitação se prolongasse indefinidamente: não fosse interrompida pelo orgasmo.

Todo esse meu último e intrincado silogismo sobre o orgasmo se destrói porque dizem os sexólogos que algumas mulheres têm o privilégio de sentir o orgasmo múltiplo, ou seja, uma metralhadora de prazer.

Atenção psiquiatras, analistas, psicólogos e outros terapeutas adjacentes: surgiu-me de repente o raciocínio de que todos os homens, portanto eu e meus leitores incluídos, somos ao mesmo tempo megalomaníacos e inseguros.

Dirão alguns terapeutas e filósofos que a insegurança peculiar nossa nasce exatamente da nossa megalomania.

Ou seja, que todos somos megalomaníacos, disso não resta dúvida: todos exacerbamos nossa autoestima.

Mas o interessante é que somos megalomaníacos porque no fundo desconfiamos da nossa real capacidade.

Então, tiro na mosca: é justamente porque somos megalomaníacos que somos simultaneamente inseguros.

Tiro e queda.

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