Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
17 de agosto de 2009
N° 16065 - L. F. VERISSIMO
Novo gênero
Nesse novo gênero literário que invadiu a imprensa brasileira de uns anos para cá, a transcrição de conversas telefônicas gravadas em investigações de corrupção, o que mais impressiona não é a quantidade de corruptos, mas a sua falta de articulação verbal.
Ninguém completa uma frase, os erros de concordância se sucedem e a lógica gramatical é constantemente assassinada sem dó. Fora o fato de que, muitas vezes, recorrem a códigos e linguagem cifrada para driblar o presumido grampo, o que só aumenta a confusão:
– Olha, mandei o embrulho, é, viu? As linguiças...– As linguiças? (Risos) – As linguiças pra vocês...
– Hein? – (Risos nervosos) Repartirem aí.
– E o pacote é... Vem como? Alô. – Vai pelo Magrão... – O Magrão que você diz é o... – É o Magrão.
– Ah. Sei (risos histéricos)
Não invejo os técnicos da Polícia Federal e do ministério público obrigados a decifrar diálogos e achar sentido nas falas truncadas, hesitações e barbaridades inconscientes que constituem um diálogo normal. Porque a verdade é que nós todos falamos assim.
Basta ouvir a gravação de uma conversa nossa ao telefone para nos darmos conta: somos todos culpados, dependendo de como nos interpretarem. E os poucos que falam corretamente, colocam os pronomes onde devem e fazem sentido são os maiores suspeitos, pois obviamente ensaiaram sua fala para enganar os grampeadores.
Descontado tudo isso, o novo gênero não deixa de ter seu encanto. Conheci uma pessoa que folheava rapidamente um livro antes de comprá-lo ou não. Dizia que não interessava o autor ou o tema do livro, só interessava se tinha bastante diálogo. Nossos jornais e revistas andam cheios de diálogos realistas que são fascinantes mesmo quando ininteligíveis.
Como o Al Capone, que escapou da punição por todos os seus crimes e foi enquadrado por sonegação de impostos, alguns dos nossos corruptos que escaparem da punição por suas falcatruas (o que no Brasil não é difícil), poderiam ser enquadrados, com base nas suas conversas gravadas, por crimes contra o idioma.
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