quarta-feira, 19 de agosto de 2009



19 de agosto de 2009
N° 16067 - DIANA CORSO


Portugueses com ginga

Existem várias maneiras de conhecer o Brasil. Nessas férias escolhi a mais enviesada: fiz as malas e fui para Portugal. Já suspeitava que somos mais portugueses do que gostamos de admitir. Confirmou-se.

Talvez o brasileiro seja apenas um português com açúcar. Como eles, negociamos pouco, só fazemos o que queremos e do jeito que achamos certo, só que eles fecham a cara enquanto nós enrolamos.

Portugal é caseiro, é antigo sem a opulência de outras capitais europeias; é verde, e o clima é ameno; a comida é simples e gostosa. Os portugueses provenientes das ex-colônias fazem de Lisboa uma capital colorida, ruidosa e muito “brasileira”.

Os locais históricos, múltiplos e lindos, não são muito bem organizados e conservados. Falta a eficiência do primeiro mundo, mas isso faz que a gente não se sinta recebendo tudo pronto. Lisboa tem inúmeros pontos turísticos, mas não tem caminhos óbvios, podemos percorrê-la ao nosso modo, e rapidamente nos familiarizamos com ela.

O inverso nem sempre acontece: compreendem mal nosso português e nosso país. Nem lhes ocorre como uma família de branquelas poderia provir do país do samba e do futebol, acreditavam mais nos olhos do que nos ouvidos e não concebiam que falássemos sua língua.

Os lisboetas por vezes podem parecer casmurros, mas creio que eles são é demasiado convictos: há pouco lugar para a dubiedade de expressão e interpretação, para o subtexto.

Ao perguntar, é preciso entrar em seu modo de raciocínio para que nos respondam. Por sorte, isso não impediu Camões, não inviabilizou Fernando Pessoa, nem os impossibilitou de ser suficientemente espertos para no passado controlar parte do planeta.

Duvido que mesmo com tanta sutileza nós sejamos tão marcantes para o mundo como eles um dia foram. Já não é época de colonialismo, ainda bem, mas naquele então souberam navegar e espalhar sua língua, sua tradição e seus defeitos. E nós, libertos desse pai escravocrata e burocrático, aonde vamos com tanto requebro?

Quanto às tolices de que eles são sempre acusados, sim as encontrei, mas quiçá a diferença seja que eles são meio tolos nos detalhes da vida, numa maneira torta de fazer o simples, enquanto nossa tolice seja no atacado, nas grandes empreitadas.

Quando der, junte as moedas do cofrinho e vá conhecer nossas origens lusitanas. Vale e pena e não existe a barreira do idioma, afinal, muitos falam um bom inglês.

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