quarta-feira, 12 de agosto de 2009



12 de agosto de 2009
N° 16060 - JOSÉ PEDRO GOULART


Gramado é legal

Participei do Festival de Gramado de tudo quanto foi jeito. Penetra, jornalista, realizador, júri, comissão executiva. Meu maior orgulho? No ano em que foi constituído o Troféu Oscarito, o pessoal queria dá-lo ao Anselmo Duarte.

Protestei, resisti, insisti: óbvio que era o Grande Otelo quem devia ganhar. Consegui. No dia da premiação ele subiu no palco completamente bebum e fez um discurso de meia hora: Macunaíma. No início foi legal, depois ficou um pouco chato. Mas foi legal.

Foram quase 30 anos de imagens desconectadas na minha memória. Algumas oníricas, como a da Vera Fischer numa sacada usando um vestido azul céu. Vera, cara de anjo, no auge de toda a volúpia que a consagrou imersa em um olhar distante. Greta Garbo?

Noutro ano teve o Zé Celso Martinez e sua trupe com o Rei da Vela. Zé, possuído pelo espírito antropofágico do Oswald de Andrade, só faltou morder, lamber, engolir, quem estivesse no Festival.

Na noite do filme – ao final de uma sessão conturbada de quase três horas, com muitas pessoas deixando a sala – eu, então um repórter iniciante, microfone em punho, desafiei o feiticeiro com uma singela pergunta:

– O que você achou da sessão? Zé Celso me arrancou com raiva o microfone e o apontando para mim devolveu:

– O que VOCÊ achou?

Gaguejei algumas interjeições, e ele ali, me fuzilando com um olhar obsceno, pleno de libido venenosa. Aí eu disse:

– Achei mais ou menos. Ele soltou o microfone no ar e saiu.

Não lembro bem o ano, mas o Murilo Salles fez um curta em que um casal fazia sexo (explícito) embalados pelo Hino Nacional. Quase na hora da sessão, chegou um moça com um documento recém-assinado pelo juiz de plantão, que impedia – sob pena de prisão dos envolvidos – que o filme fosse exibido. Nesse ano eu estava na organização, então perguntei:

– O problema é só o hino?

Era. O sexo estava liberado. Então o filme passou mudo. E a plateia acabou cantou o Hino do Brasil enquanto na tela o casal esquentava a chapa.

Bom, e esse ano estou aqui de novo, só que como ator. É isso aí, cabeção, a-t-o-r. É o que faltava no meu currículo do Festival. Foi no filme Quase um Tango..., do Sérgio Silva. Minha participação é do tamanho do meu talento, um pouco menos de um minuto. Mas foi legal.

Gramado já teve mais do que agora. Teve mais sexo, drogas, polêmica, estrelas e até cinema, na frente e por trás das telas.

O festival nos últimos anos tem procurado recuperar um pouco do prestígio cabeça que todo festival de cinema que se preza tem, Cannes, Veneza e o Oscar. E continua cafona como todo festival de cinema, Cannes, Veneza e o Oscar. Mas é legal.

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