segunda-feira, 24 de agosto de 2009


LAURA CAPRIGLIONE- DA REPORTAGEM LOCAL

Coro e lágrimas acompanham "olhos tristes"

Quando Roberto Carlos vivia o apogeu da Jovem Guarda, lá pelos anos 60, ele tinha um monte de amigos, incluindo os dois mais bacanas, Erasmo e Wanderléa, vendia discos sem os quais não se conseguia respirar, era rico, usava anel brucutu e cintos com fivelas imensas, as coisas mais legais que alguém podia ter.

Tudo dava certo para ele e, mesmo assim, a minha mãe sempre dizia que ele tinha "olhos tristes". Muitas mães diziam o mesmo.

Por isso, quando ele cantou "Outra Vez", uma música triste que fala daquele tipo de amor que a gente queria muito que tivesse dado certo, mas que -puxa vida- não deu, o ginásio do Ibirapuera lotado cantou junto, forte, como se exorcizasse todas as mágoas dos amores "errados". "Das lembranças que eu trago na vida você é a saudade que eu gosto de ter. Só assim, sinto você bem perto de mim outra vez."

Ao meu lado, nessa hora, eu não vi a saudade que eu gosto de ter, mas uma mulher elegante, na casa dos 60, o rosto inundado de lágrimas que ela não vencia enxugar. Findo o coro, Roberto emendou, como se improvisasse: "É o que digo sempre. Ninguém está sozinho numa situação como essa". A mulher fez que sim com a cabeça.

Nada era improvisado. O mesmo texto já apareceu em outros momentos da turnê "Roberto Carlos - 50 Anos de Música", que até agora percorreu 13 cidades e foi vista por mais de 300 mil pessoas. Mas não importava.

"No romance da vida de cada um dos fãs, tem o capítulo jovem, esperança, tesão, paixão, amor, decepção, perdas e danos, fé, como a vida e as canções do Roberto", explicou o empresário Fernando Rangel de Abreu, 65, ao lado da mulher, Ana Cláudia Soares, 52.

O público participou de forma diferente em cada um desses capítulos. No bloco "sensual" do show (em que brilharam hits como "Os Botões da Blusa", "Proposta" e Cavalgada"), um casal só mexia os lábios acompanhando as canções que sabia de cor.

Tímido, o homem fazia massagem com álcool em gel aroma de cânfora (herança da gripe suína) nas mãos dela, que olhava fixamente para Roberto. Os dois estão tentando uma reconciliação, depois de meses de uma separação doída.

Escolheram o show para marcar o novo passo. "Eu te proponho...", ele cantou, em coro com Roberto, ao ouvido da mulher.

Não se sabe se deu certo. O show acabou perto da meia-noite.

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