sexta-feira, 14 de agosto de 2009



Internet

Esses dias fiquei pensando em me desconectar da internet para sempre e me tornar o último cidadão privado do planeta, abraçado a meus poucos e últimos segredos, silêncios, diários impressos, papéis de carta e envelopes aéreos com losangos verdes e amarelos.

Complicado, não é? Complicado isso de estar com todo o mundo e, ao mesmo tempo, estar sozinho diante da tela. Complicado receber dezenas, centenas de mensagens e ter de decidir sobre responder ou não, depois de selecionar se ler ou não.

Não tenho assessores nem tanto tempo para isso. Sou internauta de mim mesmo. Tem horas que dá vontade de ser educado, solícito, global e responder tudo, até os spams, navegando até o sol raiar. Tem gente que deve até tirar uns dias de férias para colocar as mensagens em dia.

Tem momentos em que a caixa e a paciência estão cheias e aí é deletar tudo, sem checar conteúdos, abrindo espaço, paradoxalmente, para centenas de novos e-mails, que serão lidos ou deletados.

Todo mundo quer saber de tudo e de todos, conversar tudo com todo mundo na internet, onde direito autoral, privacidade, educação, bom gosto e calma parecem ter desaparecido. O espaço é de todo mundo e, ao mesmo tempo, aquilo é uma terra de ninguém. A internet não é um instrumento de vigilância, tão somente, como o Grande Irmão, do já velho romance 1984 de George Orwell, muito embora o seja em parte.

Há quem prefira dizer que a rede é ampla, democrática e que ditador, partido ou sistema algum pode se adonar dela. Até por aí, não é? Tem partidos e governos que censuram ou tentam censurar conteúdos e outros que utilizam a rede como megafone global e eletrônico para suas “mensagens” e propaganda ideológica-político-partidárias.

Ao cidadão cabe se conectar ou não, entrar na rede ou não, tudo bem. Essa escolha até ele tem, como tem de ligar ou não o aparelho de tevê. Mas uma escolha ele não tem, que é a de evitar que seu nome e fatos de sua vida circulem, em meio a mentiras, fantasias e verdades, nos caminhos mundiais da internet.

Hoje todo mundo é o seu próprio editor, como falou há séculos o Marshall McLuhan, o criador da expressão aldeia global. Hoje está todo mundo falando tudo a toda hora em todo lugar.

Mas acho que ainda dá tempo de alguns silêncios sadios, alguma privacidade higiênica e algum respeito humano pela privacidade dos outros e pela própria.

No dia em que não houver mais mistério e silêncio algum sobre o mundo e as pessoas, no dia em que a vaidade, a fofoca e a maldade tomarem conta total, bom, aí vai ser muito chato, muito triste, na rede e fora dela. Aí será melhor ficar fora.

Ótima sexta-feira e um excelente fim de semana com muito sol. Último das férias escolares de inverno

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