segunda-feira, 3 de agosto de 2009



03 de agosto de 2009
N° 16051 - L.F.VERISSIMO | L.F. VERISSIMO


Houve uma época

Um dia falaremos do tempo em que se revelavam fotos e as crianças não nos entenderão. Perguntarão “Como, ‘revelava’?”, e contaremos que levávamos os rolos de filme para serem revelados, e só então sabíamos como as fotos tinham “saído”, se nenhuma cabeça tinha sido cortada e nenhuma paisagem reduzida a um borrão indecifrável.

E aumentará a perplexidade das crianças. “Rolo?”. “Filme?”.

Reagirão ao fato de que houve uma época em que a distância entre o “clic” e a foto pronta podia ser de semanas como hoje reagimos à lembrança, por exemplo, de que já existiu uma coisa chamada Gumex. Quem se lembra do que era Gumex que levante o dedo, se ainda tiver forças.

Usei muito Gumex. Era uma espécie de gelatina cor-de-rosa que se aplicava ao cabelo para fixar o penteado. Vendia-se em potes ou em pó, para sua mãe misturar com água. O cabelo ficava duro.

O Gumex não apenas mantinha seu topete armado em qualquer ventania, como servia de proteção contra eventuais objetos caídos do céu. Um problema: depois de passar o Gumex, você tinha poucos segundos para ajeitar o topete de modo a assegurar o máximo efeito, pois o endurecimento era rápido. Não havia tempo para muita criatividade.

Ninguém precisa mais esperar para ver suas fotos reveladas e as velhas câmeras com rolos de filme seguem o caminho do Gumex para o esquecimento, mas as novas câmeras não tornaram o ato de fotografar muito mais fácil, pelo menos para os recém-chegados ao mundo digital. Como bem sabe quem já teve que esperar, fazendo pose, que um fotógrafo descobrisse como funcionava a câmera digital de outro.

– É só apertar o botão. – Qual? – O da direita.

– Minha direita ou a sua? – A sua, a sua. – Não aconteceu nada. – Tem que ficar apertando. – Pronto. Deu. Ou não deu?

– Eu não vi o “flash”. – Tinha que ter “flash”? – Tinha. Tenta de novo.

Clic. – Oba. Agora foi. – Deixa ver como ficou... – Acho que ficou boa. – Você cortou a minha cabeça!

É verdade que as novidades nem sempre fazem esquecer o que havia antes. Como prova a volta do disco de vinil, quando parecia que o CD era definitivo.

Além de, dizem, o vinil gravar coisas que o CD não grava, deve haver um pouco de nostalgia nessa volta ao passado. Eu usaria de novo o Gumex, se ainda existisse. Mas cadê o topete?

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