Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
03 de agosto de 2009
N° 16051 - LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Apropriações
Todo escritor, como diz Ivan Ângelo, é um atleta que participa de uma corrida de bastão que vem de milênios. Nenhum escritor começa do nada. Há uma tradição pelas costas, há milhares de livros que o precederam. Dívidas com os predecessores, todos as temos. Negar isso é desconhecer os processos que movimentam a cultura.
Não falemos em influências literárias, que essas são do quotidiano de qualquer autor; falemos em apropriações do texto alheio.
Os exemplos são muitos, e citemos aqui a letra de Waly Salomão usada por Caetano Veloso na conhecida canção Cobra Coral. As frases de que se serviu o autor estão em Michel de Montaigne, nos Ensaios, capítulo 30, Dos Canibais.
O grande humanista refere a uma canção amorosa dos índios da América: “Serpente, pare; pare, serpente, a fim de que minha irmã copie as cores com que você se enfeita, para que eu faça um colar para dar à minha amante; que a sua beleza e a sua elegância sejam preferidas entre as das demais serpentes”.
Há também a apropriação que Castro Alves, em Navio Negreiro, fez dos versos de Heinrich Heine, no poema Das Sklavenschiff (navio de escravos): “A negrada, machos e fêmeas, / aos gritos, aos pulos, aos trancos / gira e regira: a cada passo, os grilhões ritmam os arrancos. //
E saltam, volteiam com fúria incontida, mais de uma linda cativa / lúbrica, enlaça o par desnudo – / Há gemidos, na roda viva”. (A tradução e a descoberta da apropriação são de Augusto Meyer); é possível que Heine, por sua vez se tenha inspirado em Béranger, no poema Les Nègres et les Marionettes.
Por fim, basta dizer a frase “O amor é eterno enquanto dura” para que o leitor se lembre de Vinicius de Moraes; a frase, contudo, é de Henri de Régnier, que a disse antes de Vinicius. Outro também a disse antes, foi Sofocleto: “Amor eterno é o que dura enquanto existe”.
Não pensemos em plágio, mas de benditas apropriações, que fizeram essas ideias poéticas circularem em nosso país. Em outras circunstâncias, isso jamais aconteceria.
A canção de Caetano encantou uma geração inteira; o poema de Castro Alves ajudou a acabar com o horror da escravidão; Vinicius consolou muitas madrugadas de amores finitos. Eis aí alguns casos, entre inúmeros, em que o serviço maior foi prestado pela cópia do que pelo original.
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