
07 de janeiro de 2009
N° 15841 - DIANA CORSO
Vida besta
O título do último filme dirigido por Joel e Ethan Coen, Queime depois de Ler, é uma expressão que pode estar no fim de uma importante mensagem secreta, mas também significa que não vale a pena guardar. Opto pela primeira.
Embora as personagens pareçam gente importante, a locação deste filme lembra a América profunda de Fargo.
São pessoas medíocres, fracassadas, falsas ou irrelevantes, que confundem suas pequenas prioridades e impressões com grandes coisas. Obcecadas por sexo, poder, dinheiro e beleza, elas se afogam numa comédia de erros.
As personagens, não somente deste, mas da maior parte dos filmes dos irmãos Coen, são de um universo de toupeiras, que medem a realidade pelo diâmetro de seus túneis escuros. Parte da brincadeira dos diretores foi colocar dois galãs, Pitt e Clooney, no papel de abobados e torna-los convincentes. Como se vê, o charme depende do papel que se desempenhe.
A mesma vontade que temos de sacudir as personagens, para que acordem do pesadelo de non-sense e burrice para o qual nos arrastam, serve para nós mesmos. Vivemos quase sempre cegos para o que ocorre ao redor: aquele que nos ama está mais perto do que pensamos, assim como aquele que pensamos que nos é dedicado sonha longe de nós; a grande conspiração que imaginamos existir é falsa e a que realmente existe nos é desconhecida;
não somos tão feios como nos parece, mas somos menos espertos do que acreditamos; o sexo não significa encontro; e assim por diante. Não adianta sair do cinema pensando que somos inteligentes e as personagens, imbecis. Depois de rir, é difícil queimar em nossa memória um resto amargo que nos identifica com aqueles idiotas.
Desde o começo, a obra dos irmãos Coen é dedicada a revelar nosso imensurável potencial de imbecilidade, por vezes com crueldade, em Onde os Fracos não Têm Vez, outras com certa doçura, como em O Grande Lebowski.
Boa parte das guerras, assim como os piores feitos da humanidade, têm sido obra de idiotas achando-se grande coisa, seguida por outros medíocres que alegavam obediência devida aos primeiros, acompanhados de um bando de espertos com mentes estreitas. E assim seguimos vivendo sem pensar.
Acabamos de ganhar um ano novinho em folha, ano novo é como caderno novo, parece uma chance de melhorar.
Só o tempo dirá o que conseguimos fazer com isso, provavelmente nada que importe. Mas estes filmes ajudam a lembrar que alienação não é um termo filosófico vago, é uma forma de vida ao alcance de todos nós
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