
07 de janeiro de 2009
N° 15841 - PAULO SANT’ANA
Mais mortes nas boas estradas
Não tem jeito de sair da minha cabeça este número: somente nas rodovias federais, vejam bem, morreram 435 pessoas em acidentes durante os feriadões de Natal e Ano-Novo.
Foram 16 dias pesquisados. Ou seja, foram 27 mortes por dia só nas estradas federais. Atualmente, a média de mortes por dia no trânsito brasileiro é de cem cadáveres.
E, por ano, morrem 50 mil pessoas em acidentes de trânsito no Brasil, contando aqueles que morrem feridos nos hospitais, depois da ocorrência dos acidentes, que não são computados nos índices oficiais.
Eu me preocupo, talvez tolamente, com esses números. É que não tenho como evitá-los, nada posso fazer para evitar essas cifras superiores às do Iraque e de Gaza.
Nem eu posso fazer nada, nem as autoridades, nem os governos, nem os legisladores.
O que tinham de fazer já o fizeram. O novo Código de Trânsito Brasileiro foi editado em 1998 e saudado com as fanfarras da diminuição das mortes no trânsito.
Depois desse Código, aumentou o número de mortos no trânsito.
Assim foi também com a Lei Seca, todos a festejaram como a Lei Áurea do trânsito.
Pois, depois da Lei Seca, no início, diminuíram as mortes no trânsito.
Mas agora voltaram a aumentar as mortes no trânsito. Os pardais também foram saudados entusiasticamente como os salvadores de vida.
Não salvaram nada. Aumentaram as mortes. Então nada há mais que fazer?
Cheguei a pensar que esse morticínio é tão grande e alarmante, que seremos obrigados a determinar por lei às montadoras que construam carros com capacidade máxima de 110 km/h.
Acho que só essa medida tecnicamente antimercado pode acabar com as mortes.
Porque se todos transitassem a uma média de 80 km/h, as mortes iriam diminuir em 90%.
Tenho certeza de que nós seremos obrigados a isso, embora contrarie todo o bom senso internacional.
Alguma coisa terá de ser feita. Não pode continuar assim.
Não pode morrer a cada ano no Brasil uma população inteira do município de Santiago do Boqueirão (51 mil habitantes).
É demais.
E o pior é que os patrulheiros federais do Rio de Janeiro estão declarando que, quanto melhor for a estrada, mais mortes acontecerão nela.
Um deles disse: “É como se o condutor tivesse mais carinho pela roda de liga leve de seu carro, pelo eixo do seu carro do que pela sua própria família, que vai dentro do carro”.
Ora, se, quanto melhores forem as estradas, mais mortes haverá nelas, se, quanto mais esburacadas forem as estradas, menos mortes haverá nelas, então estamos fritos no futuro, eis que pregamos cada vez melhores estradas.
Sinceramente, eu nunca pensara que, quando suplicamos que os governos dupliquem as rodovias, estamos clamando por mais mortes no trânsito!
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