terça-feira, 20 de janeiro de 2009



20 de janeiro de 2009
N° 15854 - LUÍS AUGUSTO FISCHER


Duzentos anos ontem

Dia 19 de janeiro de 1809 nasceu Edgar Allan Poe, em Baltimore, nos EUA; viveu não mais que 40 anos, publicou alguns livros e vários textos em jornais e revistas; sofreu bastante, casou tristemente, não obteve em vida o reconhecimento de que se julgava merecedor; mas o futuro, como se está vendo, o colocou num patamar elevadíssimo aqui no Ocidente, ao lado dos maiores.

Sua obra se compõe de poemas, dos quais um é famoso (O Corvo, que mereceu já uma meia dúzia de traduções ao português, inclusive de Machado de Assis).

Também há contos, dos quais vários são famosos, por motivos variados, em geral associados à narrativa de suspense, de terror e policial, por um lado, e noutros casos associados com golpes de profunda intuição do autor a respeito de traços sociais e culturais que em seu tempo de vida eram ainda difíceis de discernir, mas que, no tempo posterior, acabaram se convertendo em chaves para entender a vida urbana moderna – a solidão incontrolável, a obsessão doentia, por aí.

De minha parte, gosto de enfatizar os ensaios, que por sua vez são também muito variados em temperamento e forma. Existem alguns quilométricos e não raro amalucados, como é o caso de Eureka, que desde o título já sugere que o autor se julga descobridor de um grande segredo, como Arquimedes, o primeiro a gritar tal palavra.

Há outros que se consagraram na tradição letrada, porque são como que teorias da literatura tal como concebida por ele; destes, o mais famoso é Filosofia da Composição, longa racionalização sobre os meandros da criação literária, a qual para Poe devia orientar-se por um efeito, desejado pelo autor para seu leitor.

Assim, Poe varreu do cenário a idéia de arte como inspiração, que em seu tempo – estamos falando do Romantismo – tinha força.

Aliás, uma boa parte de sua singularidade advém justamente do choque entre essas duas forças: de um lado, ele crê controlar a criação; de outro, vive como se tudo não passasse, para ele, de golpes de seu gênio.

Há também uma coletânea, intitulada Marginalia, nunca totalmente traduzida para o português, que se compõe de anotações, como o nome diz, à margem de livros que lia; neste caso são textos relativamente curtos e diretos, com impressões de leitura, insights, juízos sumários sobre pessoas e obras, bobagens também. Papa fina, para quem gosta de ensaio.

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