quinta-feira, 22 de janeiro de 2009


ELIANE CANTANHÊDE

A festa acabou

BRASÍLIA - Enquanto Barack Obama tomava posse, desfilava a pé pelas ruas de Washington com Michelle e pegava embalo para o baile da noite, num dia emocionante e transmitido para todo o planeta, as Bolsas despencavam lá e cá: o Ibovespa recuou 4% no Brasil.

A festa acabou. Sai de cena o candidato, guardam-se os vestidos de gala, empurram-se para as gavetas os discursos de palanque. Chegou a hora da verdade. E dos problemas.

No discurso de posse, Obama foi sóbrio, mas falou à alma dos norte-americanos. Usou todo o carisma e a voz grave e poderosa para admitir os tempos difíceis e chacoalhar a garra, a esperança e o decantado patriotismo dos concidadãos, acirrados pela chegada dos negros ao poder e pela expectativa dos pobres de que tudo será diferente.

Falou também para o mundo, que está ansioso, cheio de dúvidas e temores: "O mundo mudou, e precisamos mudar com ele", disse, trocando o tom ameaçador da potência pelo tom contemporizador do líder natural (um fato, não uma vontade ou opção).

Estendeu a mão aos muçulmanos, aos amigos e aos "inimigos anteriores". Um discurso, assim resumido, de guerra interna e mutirão contra a crise e de paz e parceria com o mundo.

E com referências, que caíram especialmente bem no Brasil, ao aquecimento global e ao uso comedido de energia, para não dizimar os recursos naturais do planeta e não fortalecer "os adversários". Uma clara defesa dos biocombustíveis, bandeira brasileira.

Foi, como convinha, um discurso genérico que mostra quem veio e a que veio. O passo seguinte será a apresentação da plataforma anual ao Congresso, quando estabelecerá não apenas princípios, mas programas, objetivos, metas.

Pelos quais poderá ser aplaudido ou cobrado, objetivamente, já, logo adiante ou no futuro. A eleição e a posse de Obama foram grandes momentos da história. Que seu governo também seja.

elianec@uol.com.br

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