sexta-feira, 23 de janeiro de 2009



23 de janeiro de 2009
N° 15857 - DAVID COIMBRA


O patrão

Escrevo sob centenas de protestos, censuras brandas e sobretudo xingamentos irados que recebo desde a semana passada, por ter me manifestado sobre o debate entre a presidente do Cpers, Rejane de Oliveira, e a secretária de Educação, Mariza Abreu.

Difícil escrever aqui debaixo. Mas havia previsto que tal ocorreria. Porque aqui, no Rio Grande amado, tudo tem de ser bom ou mau, certo ou errado, mocinho ou bandido. Aqui não é possível a reflexão, só a adesão. Compreendo, portanto, a reação dos que me atacam. O que não quer dizer que me conformo com ela.

A maioria dos críticos questionou o meu direito de falar mal do Cpers. Alguns perguntaram, com ironia, se sou “especialista em Cpers”, outros afirmaram que não entendo de Educação, uns tantos me acusaram de estar ideologicamente mal-intencionado.

Bem. Verdade que não cheguei a “falar mal” do Cpers. Estranhei a atitude algo intransigente da presidente da entidade, de oposição cega e inamovível a qualquer proposta do governo. Mas esse detalhe é irrelevante.

O importante foi ter acreditado que eu, como pai, como filho de professora, como ex-aluno, como jornalista ou como cidadão gaúcho, poderia reclamar da atuação dos professores ou do Cpers ou de quaisquer funcionários públicos. Alguns professores e sindicalistas acham que não. Nenhuma dessas condições me daria direito à queixa. Certo. Então vou valer-me de outra condição. Vou falar como patrão.

Contribuo, e contribuo bem, para o pagamento dos salários do funcionalismo público gaúcho, inclusive dos diretores do Cpers, inclusive da presidente do sindicato. Eles estão, sim, sujeitos à minha fiscalização e ao meu exame.

E, como patrão, vou dar-lhes um aviso: não estou satisfeito com seu rendimento. Até entendo que a culpa não é só deles. Há décadas que o governo do Estado, do qual igualmente sou patrão, também não se comporta como deveria.

No entanto, ainda posso falar do alto de outra condição: posso falar como trabalhador. É deste prisma que vou citar um ponto, um único ponto que, suponho, possa ser positivo no projeto do governo e que talvez não mereça a oposição encanzinada e birrenta do Cpers.

Eu, como trabalhador da RBS, assim como meus colegas, nós temos direito ao PPR, um Plano de Participação nos Resultados anuais da empresa. Se o faturamento for positivo, os funcionários ganham uma parcela dele.

Tempos atrás, um dos critérios para se avaliar quem ganharia essa bonificação era a avaliação dos chefes de setor. Então eu, como editor, fazia o seguinte: dava nota máxima a todos os colegas aos quais avaliava.

Não só eu: a maioria dos editores fazia o mesmo. Porque a lógica é óbvia: se todos podem ganhar um prêmio, quem não ganha é prejudicado. Assim, o prêmio não é mais prêmio; é punição, e punição dura. Logo, só se pretendesse punir alguém severamente não lhe daria nota máxima. Mas só neste caso.

Ora, um dos atuais critérios de promoção dos professores é semelhante a esse: é a avaliação dos diretores. Aliás, diretores eleitos pelo voto de professores, alunos e funcionários. Outro dos critérios é o tempo de serviço – a cada três anos o professor ganha uma promoção. Ambos são critérios questionáveis.

Talvez o Cpers pudesse pelo menos discutir esse ponto. Ou até discutir outros, quem sabe? Não digo aceitar, simplesmente: discutir. Tentar melhorar.

Tentar avançar. Penso assim, e é possível que outros milhões de patrões do Estado pensem parecido. Seria bom que os funcionários levassem isso em conta. Seria bom. Porque, olha, quem está falando aqui é quem manda. É o patrão.

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