quinta-feira, 29 de janeiro de 2009



29 de janeiro de 2009
N° 15863 - PAULO SANT’ANA


Um profeta genial

Chama a atenção que esta colossal crise financeira que debilita a economia mundial não tenha sido pressentida nem pelos maiores países nem pela elite do capitalismo contemporâneo.

As pessoas comuns, entre as quais os leitores e o autor desta coluna, estamos todos espantados que tenham ruído de repente os alicerces do capitalismo em todo o mundo, sem que ninguém com responsabilidade tivesse advertido o mundo sobre esta catástrofe.

Ou melhor, um homem só, um solitário economista em todo o mundo previu esta tragédia.

Foi o economista Nouriel Roubini, nascido em Istambul e criado no Irã e na Itália, tendo depois trabalhado em todo o mundo, tendo sido até mesmo assessor político do Tesouro dos EUA.

Há três anos, Nouriel Roubini foi tachado de fatalista e enganador quando detectou uma enorme vulnerabilidade no sistema bancário dos EUA, prevendo o seu colapso.

Em 2006, Roubini fez um discurso no Fundo Monetário Internacional, afirmando, entre outras coisas, que a economia norte-americana corria o risco de um colapso imobiliário e uma profunda recessão, com consequências funestas para o mundo inteiro.

Exatamente como aconteceu e está acontecendo.

Ele próprio declara agora que outras pessoas previram o cenário atual, mas ninguém foi tão preciso e tão grave como ele.

Quando é confrontado com opiniões de que só teve muita sorte em prever esta monumental crise e que “até um relógio parado acerta a hora duas vezes por dia”, reage, acusando de ingênuos seus contestadores, que previram crescimento quando a crise já se intensificava.

Ele declara: “Dizer que foi apenas sorte da minha parte é um absurdo. Fiz previsões concretas que acabaram sendo certas. Exatamente certas”.

Nouriel Roubini cita um estudo de sua autoria, elaborado em fevereiro do ano passado, faz quase um ano, intitulado “Doze passos para o desastre financeiro”, no qual, segundo ele, “cada passo foi exatamente como a crise se desenvolveu nos últimos seis meses”.

“Eu disse que as duas maiores corretoras dos EUA iriam à falência e não haveria nenhuma grande corretora independente nos próximos dois anos. Ora, bastaram sete meses para a Bear Stearns e o Lehman (Brothers) quebrarem. Não foi uma análise imprecisa da minha parte quando declarei que ocorreria uma crise financeira. Fui bem explícito. E acertei.”

E acertou na mosca, salientando a fragilidade bancária e das corretoras, chamando a atenção para a precariedade do sistema imobiliário e suas anêmicas hipotecas.

Ele explica suas exatas e certas previsões com estudos comparativos do padrão de movimento econômico dos EUA com os de países emergentes, notando em ambos a mesma “exuberância irracional’, que na sua opinião só poderia ser seguida de um enorme colapso.

“Tivemos dezenas de sinais distintos de que tudo acabaria num ponto de não-retorno. A ocorrência de uma crise era algo totalmente óbvio para mim.”

Mas o mais trágico é que este homem marcado pela genialidade de suas previsões, contrárias a todas as expectativas dos mercados e dos governos até meses atrás, continua prevendo. E prevendo mais tragédias: “Mais fundos hedges (os mais arriscados do mercado) vão quebrar, mas o efeito cascata nem começou a ser sentido.

As perdas agora estão concentradas nas hipotecas. Espere até que atinjam os imóveis comerciais, as companhias de cartão de crédito, os empréstimos automotivos, o crédito estudantil e os bônus corporativos. Há uma pilha de coisas. O sistema financeiro está insolvente. Está tecnicamente falido”.

Nouriel Roubini dá a impressão de que agora não há mais tempo para corrigir os males constantes de suas previsões.

E de que é uma fatalidade que entre em ruína em 2009 o sistema capitalista.

Por sinal, a Organização Internacional do Trabalho previu anteontem que em 2009 serão evaporados 52 milhões de empregos no mundo.

Cruzes!

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