
13 de janeiro de 2009
N° 15847 - PAULO SANT’ANA
Meios desproporcionais
Impossível opinar sobre quem tem razão no conflito em Gaza, que domina o noticiário há quase 20 dias.
É tanta a confusão sobre o mérito da guerra, que há israelenses dentro de Israel que dão razão aos habitantes de Gaza e palestinos da Cisjordânia que dão razão aos israelenses.
Como é que a gente vai meter a mão numa cumbuca dessas?
Aqui de longe, sem a autoridade de quem for se atrever a julgar fatos ocorrentes em quintal alheio, sou obrigado a lamentar que o Hamas use crianças e escolas como escudos e que israelenses bombardeiem escolas sob custódia da ONU e ambulâncias que prestam ajuda humanitária aos habitantes de Gaza.
O que mais posso fazer? Num esforço de retórica ainda me atreveria a dizer que quem provocou a guerra foi o Hamas ao lançar mísseis sobre Israel e quem agrava a guerra é Israel ao usar de meios desproporcionais para reprimir o Hamas.
Por falar nisso, o mundo inteiro e a ONU acusam Israel de estar usando de meios desproporcionais em Gaza.
Ainda anteontem, desfilou pelo centro de São Paulo uma passeata integrada por 3 mil pessoas que se manifestaram contrárias aos ataques de Israel e à invasão de suas forças sobre a Faixa de Gaza.
Não vejo em parte nenhuma do mundo qualquer passeata ou manifestação de apoio a Israel.
Talvez isso se justifique por uma vocação do ser humano: nós sempre torcemos pelos mais fracos.
Mas e essa acusação mundial que pesa sobre Israel de que está usando de meios desproporcionais ao revidar os foguetes do Hamas que desabam sobre seu território?
O que me falta saber é o seguinte: o que vêm a ser “meios desproporcionais”?
Para não ser desproporcional, Israel teria de, a cada foguete que atingisse seu território, enviar um foguete apenas contra a Faixa de Gaza?
E Israel teria ainda de ter cuidado de, ao lançar seu míssil-resposta, que ele não fosse mais potente em suas carga destrutiva do que o míssil jogado pelo Hamas em seu território?
Tendo o cuidado de não me deixar seduzir nem pela causa israelense nem pela palestina, pelo que não corro o risco de optar pelo lado errado, ainda assim insisto: é possível usar meios proporcionais numa guerra? A guerra, por sinal, não é a ciência da desproporcionalidade?
Ou seja, quem usar os melhores e mais modernos e mais capacitados armamentos, o exército melhor adestrado, não será o vencedor da guerra?
Ou, por outra face, mal comparando, o recém-empossado prefeito da cidade do Rio de Janeiro não estará usando de “meios desproporcionais” ao utilizar retroescavadeiras para demolir (pôr por terra) edifícios inteiros construídos irregularmente na cidade?
Não seria melhor que o prefeito usasse de meios proporcionais à construção clandestina? Em outras palavras, não seria melhor que não fizesse nada e deixasse as construções irregulares prosperarem?
Fico sem saber o que são “reações proporcionais” em uma guerra, até mesmo porque, se forem sempre usadas reações proporcionais, qualquer conflito ou embate terminará empatado.
Então, a gente fica perplexo de ver, entre os 900 mortos, dezenas ou centenas de crianças vítimas dos ataques de Israel e ao mesmo tempo os militantes do Hamas desferindo mísseis contra Israel, claro que calculando que a reação adversária vai destroçar seus civis, suas mulheres e suas crianças, parecendo desejar o martírio delas.
A impressão que dá este conflito é de que ele atravessará, em 2009, sem solução, o seu segundo século.
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