sábado, 24 de janeiro de 2009



24 de janeiro de 2009
N° 15858 - PAULO SANT’ANA


Avião delirante

Leio com respeito os jornais afirmarem que a prioridade do governo gaúcho é a compra de um avião para a governadora.

Zero Hora de ontem anunciou que foram fechadas na China 670 mil fábricas em razão da violenta crise financeira mundial.

Ora, 670 mil fábricas fechadas significam obviamente mais de 10 milhões de empregos extintos. É fantástico o número.

Mas a governadora declarou anteontem que quer pôr em discussão a compra de um avião a jato para seu uso.

Todos os jornais noticiaram ontem que a Microsoft irá demitir 5 mil funcionários.

E estima-se entre as multinacionais que a Circuit City vá demitir 30 mil funcionários.

A Intel está demitindo 6 mil trabalhadores. A BHP vai degolar 6 mil funcionários.

A Ericsson vai demitir 5 mil. A Eaton está demitindo 5,2 mil trabalhadores. A Hertz porá no olho da rua 4 mil trabalhadores. A Honda demitirá 3,1 mil funcionários. A Rio Tinto demitirá 2,6 mil.

A Pfizer demite 2,4 mil. E a AMD desliga de seus quadros 1,1 mil funcionários.

A proposta da Vale do Rio Doce é licenciar milhares de empregados mediante o pagamento de apenas meio salário.

Isto que a Vale do Rio Doce já demitiu 1,3 mil funcionários. Como se vê, a crise é mastodôntica, aterrorizante. Fatalmente ela atingirá os cofres do governo do Estado.

Não é crível que, diante de uma crise concretamente demolidora, o governo do Estado do RS esteja querendo pôr em discussão a compra de um avião a jato caríssimo para uso da governadora.

Evidentemente que, diante de crise assim tão avassaladora, nenhuma empresa do mundo esteja querendo adquirir avião a jato para seus dirigentes e executivos.

O Rio Grande do Sul é uma empresa. Como é que o Estado marcha então no contrafluxo da crise mundial pretendendo adquirir um avião a jato para a governadora?

É lógico que se achará utilidade para um avião que transporte a governadora.

Mas essa aquisição tinha de ser feita numa época de esplendor financeiro, jamais no vórtice de uma crise econômica aterradora.

A compra de um avião, neste instante delicado, não poderia aparecer nos jornais como assunto prioritário para o Estado.

Até agora não apareceu sequer uma pessoa que apoiasse a aquisição desse avião.

Todos os que se manifestaram até aqui são contra a compra de um avião, principalmente no instante em que o mundo vive essa tremenda crise.

Desde os jornalistas até os deputados da base aliada, unanimemente dizem que não é o momento para a compra do avião.

Incrivelmente a governadora quer discutir com a sociedade a compra do avião. Ela insiste em comprar um avião, é inacreditável.

Se ela for fazer um plebiscito, insisto em que vivemos uma crise de incalculáveis proporções nocivas, 99% dos gaúchos votarão em que é condenável querer comprar avião nesta hora.

Favoráveis à compra do avião deverão votar nesse suposto plebiscito somente a governadora e os quatro pilotos necessários para manter a aeronave.

Mas a governadora pôs em discussão anteontem a compra do avião. Há assuntos que não têm discussão. Só têm teimosia.

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