sábado, 24 de janeiro de 2009



24 de janeiro de 2009
N° 15858 - NILSON SOUZA


O poema de Obama

Sou apaixonado por bons textos. Quando leio um livro bem escrito, morro de inveja do autor – aquela inveja saudável do reconhecimento. Quando uma poesia me atinge com algum verso especial, comovo-me às lágrimas.

Quando encontro uma frase construída com a argamassa do talento, paro com tudo, dou voltas em torno dela, à procura das digitais do autor para me lembrar de respeitá-lo nos próximos encontros.

Neste mundo das letras, conheci três autores que considero verdadeiramente geniais, cada um no seu gênero: o saudoso poeta Jayme Caetano Braun, o compositor (não o escritor) Chico Buarque de Hollanda e o nosso ilustre companheiro de crônicas Luis Fernando Verissimo. No dia em que escrever qualquer coisa parecida com os textos deles, peço a minha aposentadoria e vou saborear a glória da realização.

Pois nesta condição de admirador da mensagem escrita, estava muito curioso para ver o que diria em seu discurso de posse o presidente Barack Obama. Tenho um certo fascínio por pronunciamentos desse tipo.

Sei bem, por já ter colaborado com alguns palestrantes, que um discurso solene exige preparo, pesquisa, elaboração cuidadosa e também uma interpretação condizente com a qualidade do texto e compatível com a expectativa do público. Nem sempre é obra de um homem só.

Li, sem espanto, que o novo presidente norte-americano conta com a ajuda de um jovem redator nas suas falas. O político entra com as ideias e o ghost writer (escritor fantasma, que é como são chamados os profissionais deste ofício) as ordena em frases de efeito, em parágrafos surpreendentes, em sutilezas inteligentes.

Ouvi parte do pronunciamento de Obama e depois li com atenção a tradução de sua mensagem ao mundo. Não me decepcionei. O texto transmite ao mesmo tempo realismo e esperança, entusiasmo e disposição para o cumprimento de compromissos assumidos com valores essenciais da sociedade humana, a paz, a justiça, a igualdade e o desenvolvimento.

Este parágrafo soou como um poema para os meus ouvidos: “Aos povos das nações pobres: comprometemo-nos a trabalhar ao lado de vocês para que suas fazendas floresçam e águas limpas possam fluir; para alimentar corpos esfomeados e mentes famintas.

E àquelas nações como a nossa, que gozam de relativa abundância, dizemos que não podemos mais aceitar a indiferença ao sofrimento fora de nossas fronteiras; nem podemos consumir os recursos do mundo sem pensar nos efeitos disso. Pois o mundo mudou, e precisamos mudar junto com ele”.

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