quarta-feira, 14 de janeiro de 2009



14 de janeiro de 2009
N° 15848 - DAVID COIMBRA


As mulheres e o futebol

Estava na casa de um amigo assistindo àquele Grêmio versus Goiás no ano passado. Meu amigo, gremistão, sentou-se no centro do sofá, bem em frente à TV. Instalei-me na ponta direita do mesmo sofá. Outro amigo, este colorado, acomodou-se no lado esquerdo. As mulheres dos dois ficaram em duas poltronas laterais, conversando sobre outros assuntos que não futebol. Não ligavam para futebol. Não sabiam nada de futebol.

O Grêmio começou ganhando, como se sabe, mas o Goiás empatou. Se o Grêmio vencesse seria campeão, hoje isso está claro, na época tratava-se de uma forte suspeita. Foi por essa razão que o gol de empate ouriçou o meu amigo gremista e o colorado também.

Ambos se puseram eretos no sofá, o gremista emitiu um palavrão acerca de uma meretriz que deu à luz, e o colorado esfregou as mãos de contentamento. A atitude dos dois chamou a atenção das mulheres. Elas pararam de falar sobre o novo shopping e ficaram olhando para os maridos.

– O que foi? – perguntou a mulher do gremista ao gremista.

– O Grêmio levou um gol – respondeu o gremista, sem tirar os olhos da TV.

– Levou... – sorriu o colorado, e percebi que a ironia suave irritou mais do que suavemente o gremista.

– O Grêmio está perdendo, então? – tornou a mulher. – Está empatando! – disse o gremista, ainda sem olhá-la.

– Ah, então não é tão ruim... – concluiu ela. – É ruim, sim! – ele não desgrudava os olhos da TV. O Grêmio atacava, mas não fazia gol.

– Bem ruim – ciciou o colorado, sardônico. O gremista rosnou baixinho. – Por que é ruim? – perguntou a mulher do colorado.

O gremista olhou para o teto, decerto implorando ajuda do Senhor. – Por que o jogo é em casa! – respondeu ele, mal escondendo a impaciência.

As duas se calaram por alguns instantes. Percebi que o gremista estava agradecido pela trégua.

– Que campeonato é esse? – perguntou a mulher do colorado.

– Brasileiro – informou o colorado.

– Mas o Brasileiro já não terminou? – estranhou a mulher do gremista. – Não! – disse o gremista. – Aquilo foi a Copa do Brasil!

– E qual é a diferença? O gremista ganiu baixinho. Segurou a cabeça com as duas mãos, tentando prestar a tenção ao jogo.

Aí o Goiás fez o segundo gol.

– PU@$%$$!”¨%&*&¨**&¨%$(0((–&¨%$@! – gritou o gremista. – Ah... sorriu o colorado. – O que foi? – quis saber a mulher do gremista.

Ele não respondeu. O colorado também não. O colorado ria. – Amor – ela insistiu. – Que que foi?

Ele suspirou: – O Grêmio levou um gol! – Está perdendo, então? – Está.

– Não está mais empatando? – Não!!! Dez segundos de silêncio. Ao cabo dos quais, ela concluiu, fitando a TV: – Como o Grêmio está ruim, né?

O gremista deu um tapa no sofá e pela primeira vez a olhou: – Não está ruim, não! O Grêmio é o líder! O líder!

Ela arregalou os olhos: – Então por que é que você está tão nervoso?

– Não estou nervoso! O colorado sorria. O Grêmio perdeu outro gol. – WOLFREMBAER! – exclamou o gremista.

– O que foi? – perguntou ela. – O Grêmio levou outro gol? – NÃO!

– Então por que você está tão nervoso? – NÃO ESTOU NERVOSO!!!

– Qual é a diferença entre o Brasileiro e a Copa do Brasil? – perguntou a mulher do colorado.

Naquele momento, o juiz encerrou o jogo. Goiás 2 a 1. O gremista enfiou a cabeça entre os joelhos, como se estivesse chorando. Fazia: – Iiiiiiiiiih...

– O Grêmio levou MAIS UM gol? – surpreendeu-se a mulher do gremista, enfatizando o “mais um”.

– NÃÃÃÃÃÃO! – urrou o gremista. – Então por que você está tão nervoso?

Ele saltou do sofá. Berrou: – Por que você é uma VC$%@&¨(())&*!@””(*&¨&%$@!!!!!!!!

Ela abriu a boca, assustada. O colorado ria.

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