segunda-feira, 19 de janeiro de 2009



19 de janeiro de 2009
N° 15853 - LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL


Leituras de férias

Se é verdade o que afirmam as pessoas, de que nas férias leem coisas leves, isso não significa que leiam coisas pesadas - ou que leiam qualquer coisa - durante o resto do ano.

Imaginando, porém, que seja verdade o que afirmam, eis aí uma questão fora de foco. Justamente nas férias é que dispomos de maior lazer intelectual e, por conseguinte, nossa capacidade de refletir fica mais aguçada.

Ler um livro de ensaios de Habermas em meio à balbúrdia de mil afazeres e horários tem outro resultado do que lê-lo à beira-mar [para quem gosta], sob um guarda-sol, quando o único dever é respirar e digerir. Até a ausência de uma tentadora biblioteca organizada ajuda-nos a concentração naquele único livro.

Nesta temporada acontecem algumas coisas inteligentes, e será fácil localizá-las nas livrarias.

Há, por exemplo, o lançamento brasileiro do livro do historiador português José Norton, cujo título é O Último Távora. Traz um subtítulo imenso: A Incrível História do Homem que Sobreviveu à Trama para Matar o Rei de Portugal, Orientou D. João a Fugir para o Brasil e Terminou a Vida como General de Napoleão Bonaparte.

O leitor regularmente instruído entende todo esse quebra-cabeça, dado que 2008 foi o ano da comemoração da transferência [não uma fuga] da Corte portuguesa para o Brasil, um ato de grande sabedoria estratégica e ousadia política de D. João VI. Mas vá lá que o subtítulo fale em “fuga” - essa ideia equivocada ainda tem seu apelo de marketing. É mais fácil entender uma fuga do que uma transferência.

O homem que perfez uma trajetória tão arrebatadora chamava-se Pedro de Almeida Portugal, neto dos marqueses de Távora, da mais alta aristocracia; suspeitos de participarem de um atentado à vida de D. José I, os Távora foram levados a julgamento e condenados a uma execução das mais cruéis de que se tem notícia.

Por detrás desse urdimento estava o Marquês de Pombal, ministro de D. José. Pombal manifestou um espantoso interesse na formação do menino Pedro, o qual cresceu, tornou-se o 3º Marquês de Alorna e depois de mil peripécias, acabou incorporando-se às tropas napoleônicas, tendo, inclusive, participado da invasão da Rússia, padecendo os rigores da derrota.

O estilo de José Norton incorpora a dramatização de alguns momentos, e o faz dentro dos limites da possível liberdade de um historiador. É uma boa leitura, não só para conhecer o período retratado, como para entender um pouco melhor a natureza humana.

Nada melhor do que as férias para isso.

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