quinta-feira, 15 de janeiro de 2009



REAÇÃO DESPROPORCIONAL

Israel é um bom discípulo dos Estados Unidos. Se os americanos podem invadir o Iraque com base numa mentira e massacrar parte da população, por que Israel não poderia fazer o mesmo em Gaza baseado em certas verdades?

Sem dúvida, Israel é o agredido. Os palestinos do Hamas não param de jogar pedras e foguetes rústicos no quintal israelense. De vez em quando, matam uma vaca.

Ou um ser humano que não correu a tempo para o bunker. Deve morrer mais gente atingida por coice de vaca do que por foguete palestino. As estatísticas mostram que a pontaria dos 'terroristas' é ridícula. O problema é que eles não param de implicar, obrigando Israel a dar-lhes uma lição igualmente proporcional aos estragos que fazem.

Igualmente proporcional na lógica israelense. Segundo a ONU, certamente uma fonte cada vez mais suspeita aos olhos de Israel, já foram mortas 281 crianças desde o começo dos ataques. Pelo jeito, uma velha máxima atribuída a Maquiavel voltou à moda: os fins justificam os meios.

Para acabar com o transtorno provocado pelos brutos do Hamas, com suas poderosas armas, vale matar crianças. Afinal, conforme a propaganda israelense, os palestinos costumam usar as suas crianças como escudo. Covardia contra covardia tem mil anos de perdão. A comunidade internacional atola-se na hipocrisia. Condena sem condenar.

Por que não adota sanções? Por que não propõe um embargo econômico contra Israel para que as mortes de inocentes cessem? Por que não força o entendimento entre as partes na área?
Israel é bom de chantagem. Qualquer crítica aos seus atos rapidamente é vista como manifestação de antissemitismo.

O judeu Edgar Morin, que participou da luta armada contra a ocupação da França pelos nazistas, sofreu processo não faz muito tempo por ter acusado Israel de praticar uma política totalitária. A Justiça teve o bom senso de absolvê-lo. Israel já bombardeou escola, universidade e casas de civis. Vale tudo. Mais de 900 palestinos já morreram. Não há solução? Há.

A criação imediata de um Estado palestino, a divisão de Jerusalém, com uma administração internacional mediada pela ONU, e a aceitação da volta de parte dos 'refugiados' palestinos. Israel acha que vai resolver o problema pela força. Está criando ódios para várias décadas. Nem precisa escrever.

Imagine-se o contrário: 281 crianças israelenses mortas em ataques palestinos. As sanções internacionais seriam imediatas e implacáveis. Israel acusa o Irã de proteger os palestinos.

Os Estados Unidos protegem Israel. Ninguém duvida de que Israel é a única democracia na região. Isso, porém, não lhe dá direito de responder a uma guerra considerada suja, embora de eficácia duvidosa, com uma guerra suja de eficácia total contra crianças.

Ou será que se trata de cortar o mal pela raiz? No último sábado, um tanque israelense matou uma família inteira de uma só vez. Eram oito civis. Existem convenções internacionais que tentam civilizar as guerras. A ação israelense é desproporcional em relação aos danos sofridos. Parece mais uma operação de limpeza étnica.

A saída para o conflito entre palestinos e israelenses está nas mãos de um homem: Barack Obama.

Ainda faltam cinco dias para ele assumir a Presidência dos Estados Unidos. Quantas crianças palestinas morrerão até lá? De Bush nunca se esperou coisa alguma. Não seria exagerado, embora pouco original, chamá-lo de Pilatos.

juremir@correiodopovo.com.br

Aproveite o dia - Uma ótima quinta-feira

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