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sábado, 17 de janeiro de 2009
André Petry colunadopetry@abril.com.br
O mal do umbigo
"Pior que o silêncio é o trânsito livre do preconceito contra o estudo no exterior, uma doença que mistura antiamericanismo com o vírus do provincianismo"
Quando o professor Jorge Guimarães, presidente da Capes, a entidade que mais distribui bolsas no exterior, disse que não se devia mais investir no estudo de economia lá fora, o mundo acadêmico deveria ter desabado. A frase exata, dita em entrevista ao jornal O Globo: "Vamos continuar mandando alunos para formar doutores num modelo que faliu o mundo?
Esse modelo se mostrou totalmente anticientífico, para dizer o mínimo". Como se sabe, os acadêmicos não reagiram à enormidade do professor. Ficou subentendida a aceitação da ideia de que estudo não é aprendizado, mas doutrinação, sendo inútil estudar solução com quem cria problemas.
Pior que o silêncio é o trânsito livre do preconceito contra o estudo no exterior, uma doença que mistura antiamericanismo com o vírus do provincianismo. Tem cura, mas é contagiosa e pode matar a inteligência.
O Institute of International Education, dos Estados Unidos, informou que nunca houve tantos estrangeiros nas universidades americanas. São 620 000. O país que mais despacha estudantes para lá é a Índia, pelo sétimo ano consecutivo. São 94 000 indianos. Pode-se dizer que o domínio do inglês favorece a presença dos indianos nos EUA, mas o segundo país é a China, com 81 000.
Para fechar a lista dos campeões na era dos Brics, seria natural que, depois de Índia e China, viessem Brasil e Rússia. A Rússia não aparece. Talvez julgue lhe bastar sua Academia de Ciências, um dos maiores centros mundiais de produção científica. E o Brasil também não.
O terceiro país é a Coreia do Sul, com 70 000 estudantes. Depois, vêm Japão, Canadá, Taiwan, México, Turquia, Arábia Saudita e, completando os dez-mais, Tailândia. No segundo bloco, Nepal, Alemanha, Vietnã, Inglaterra, Hong Kong, Indonésia e – enfim! – Brasil, com 7 500 estudantes, apenas um pouco mais do que a Colômbia.
O número raquítico explica, em parte, o papelão brasileiro nas ciências. A produção brasileira, medida pelo número de artigos publicados nas
10 000 revistas científicas mais renomadas do mundo, vem crescendo, mas não é compatível com o PIB. Disputamos o 15º lugar com Suécia, Suíça, Taiwan e Turquia.
Pior que isso é o número de patentes registradas, um indicador do nível de inventividade. Também tem aumentado, mas é desanimador. Conforme dados da ONU, o Brasil registrou 585 patentes em 2006.
Para ficar nos Brics, a China cresce em ritmo fabuloso. A Rússia registrou quase 20 000. A Índia, 2 300. E o Brasil, 585. Rivalizamos com a Romênia, o ex-charco de Ceausescu.
Para chegar ao que julga ser seu destino manifesto de potência, o Brasil precisa aprender a olhar para além do próprio umbigo, sem preconceito. Em sua entrevista, o professor Guimarães só reforçou o preconceito. E deixou uma dúvida.
Ele anunciou mais investimentos para bolsas de estudo nas áreas de oceanografia e bioenergia. Mas os países ricos não são os que mais poluem os oceanos e os maiores culpados pelo aquecimento global? Vamos formar doutores nesse modelo falido...?
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