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sábado, 17 de janeiro de 2009
17 de janeiro de 2009
N° 15851 - CLÁUDIA LAITANO
Carta à mãe
No planeta de Amy Winehouse e Britney Spears, não foram os porres diários nem a voracidade sexual que chocaram o público da minissérie Maysa – Quando Fala o Coração, dirigida por Jayme Monjardim, filho da biografada.
Exagerar no uísque, fumar no avião, namorar o marido da amiga dentro da casa dela, nada disso impressionou tanto os espectadores quanto a cena em que a cantora abandona o filho doente em um internato – recusando-se a dar um beijo de despedida para não correr o risco de pegar uma gripe e estragar a voz. Quando cheguei ontem na redação, a piada já estava pronta:
– Sabia que mudou o nome da minissérie? Agora é Maysa – Quando Falta um Coração.
Acerto de contas artísticos com pais relapsos, violentos ou autoritários são relativamente comuns no cinema e na literatura – muitas vezes de forma explicitamente não-ficcional. O clássico absoluto do gênero é Carta ao Pai, de Kafka.
“Minha atividade de escritor tratava de ti, nela eu apenas me queixava daquilo que não podia me queixar junto ao teu peito”, diz o escritor a certa altura. A carta foi escrita em 1919 e nunca foi enviada ao destinatário, que morreu sem saber que ganharia (má) fama, mundial e eterna, graças ao ressentimento do filho.
O inusitado no caso da minissérie Maysa é o fato de esse acerto de contas envolver dois artistas conhecidos, o diretor/filho e a cantora/mãe. Era para ser a história da cantora, mas acabou sendo também a história dos primeiros anos de vida do diretor – ou a história como ele quis contá-la.
Por trás do roteiro esquemático (principalmente nos primeiros capítulos) e da direção convencional, corria uma vibrante história paralela à da vida de Maysa: os acontecimentos como o diretor, Jayme Monjardim, decidiu rearranjá-los para que fizessem sentido não apenas para o público, mas, supõe-se, também para ele mesmo.
Nessa narrativa, o mundo da família Monjardim/Matarazzo podia estar desabando sob hectolitros de uísque, mas o amor de André e Maysa, pais de Jayme, era reforçado a cada novo capítulo.
Independentemente da verdade “documental” dos fatos, se é que ela existe em uma forma absoluta, essa é a história que todos gostamos de acreditar: a de que somos filhos de uma grande história de amor, mesmo falhada, em vez de frutos do acaso ou de um casamento morno e sem desejo.
É preciso, portanto, fazer uma leitura em dois planos dos sofrimentos do menino Jayme no internato: ali está um filho denunciando a mãe negligente, é verdade, mas também está um adulto que superou aquele sofrimento ao ponto de poder contar a história dela não de forma ressentida, mas como tributo ao seu talento.
Um telespectador dos anos 50, descongelado esta semana unicamente para assistir à minissérie, talvez não ficasse tão chocado com aquelas cenas. Diferentes épocas têm diferentes sensibilidades. O fato é que a reação à cena do internato revela que há um consenso nos dias de hoje de que todos os sofrimentos infantis devem ser evitados a qualquer custo.
Não que os internatos ou as mães negligentes sejam um modelo de educação, longe disso. Mas aprender a lidar com as frustrações (e ser interno em um colégio na Espanha está longe de ser uma forma inaceitável de tortura) continua sendo uma etapa indispensável do amadurecimento. Jayme Monjardim parece ter escutado bem a mãe: “Se meu mundo caiu/ Eu que aprenda a levantar”.
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