terça-feira, 13 de janeiro de 2009



13 de janeiro de 2009
N° 15847 - CLÁUDIO MORENO


É muito arriscado

Quando eu era menino de escola, as aulas de História me ofereciam um animado cortejo de execuções, assassinatos e outras barbaridades – dos cristãos no Coliseu à fogueira da Inquisição, da guilhotina de Paris ao esquartejamento de Tiradentes.

O passado me parecia cruel, mas fascinante e simples de entender, já que tudo se dividia em apenas duas categorias: havia os bons e os maus, a recompensa e o castigo.

Quando estudei a democracia de Atenas, ouvi falar pela primeira vez do ostracismo, castigo que não mereceu a minha a atenção por não ter sangue nem morte. Os atenienses escreviam em pequenos cacos de cerâmica – os óstracos – o nome da pessoa que desejavam punir, e o condenado, em vez de ser executado, devia apenas cumprir um exílio de dez anos, ao cabo dos quais poderia voltar. Que graça tinha isso?

Só muito mais tarde, lendo Plutarco, entendi que o ostracismo não era a punição por alguma falta ou crime, mas sim o rebaixamento de um homem cuja importância e influência o faziam destacar-se entre os seus pares.

O banido pagava por suas qualidades, pois sua a culpa era ter fama demais, talento demais, ou sucesso demais. Alegava-se que o exílio destes homens era uma segurança para a democracia – mas, no fundo, como diz Plutarco, era apenas uma satisfação concedida aos invejosos.

Este foi o destino de Aristides, chamado “o Justo”, que teve um grande papel na guerra contra os persas. Honesto como ninguém, dedicou sua vida a aumentar o renome de Atenas, sem buscar riqueza ou glória pessoal.

Ora, o povo não podia tolerar tamanha perfeição, e logo surgiu o rumor de que ele tinha ficado importante demais; foi o que bastou para que os atenienses votassem então seu ostracismo – segundo Plutarco, disfarçando, com o pretexto de evitar a tirania, a verdadeira inveja que o seu nome inspirava. Na hora de votar, dizem que um lavrador, humilde e analfabeto, estando perto de Aristides, pediu-lhe que escrevesse “Aristides” em seu voto.

“E por quê? Este homem já fez algum dano ao amigo?”, perguntou Aristides, espantado. “Nada”, respondeu o rústico, “e eu sequer o conheço – mas não aguento mais ouvir chamá-lo de justo!”.

Aristides nada mais disse, porque amava a democracia; escreveu seu próprio nome no óstraco e o devolveu ao camponês.

No caminho para o exílio, no entanto, deve ter pensado amargamente na história de Periandro, rei de Corinto, que foi perguntar a Dênis, o duro tirano de Siracusa, qual a melhor maneira de se conservar no poder.

Dênis levou-o para um passeio no campo e, enquanto andavam, ia cortando, com golpes de seu bastão, todas as espigas que sobressaíam das demais.

O recado era claro: eliminar todos os cidadãos de destaque também era, por ironia, a grande arma dos tiranos.

Aproveite o dia - Uma ótima terça feira a você.

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