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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
28 de janeiro de 2009
N° 15862 - MARTHA MEDEIROS
Juventude
Estive no Rio semana passada. Rio de Janeiro + chuva = cinema. Lá fui eu pra Casa de Cultura Laura Alvim, numa sala com apenas 37 poltronas, assistir ao mais novo filme do Domingos Oliveira, que eu considero o nosso Woody Allen tupiniquim, sem nenhum demérito ao termo tupiniquim.
O filme chama-se Juventude, o que é uma ironia, pois trata-se da história de três velhos amigos – todos perto dos 70 anos – que se isolam na casa de um deles para jantar e realizar um inventário da própria vida: o que fizeram de certo, o que fizeram de errado, o que valeu, o que não valeu, e o que ainda pode ser feito com o resto de futuro que há.
Parece trivial, mas é raro encontrar um roteiro que discuta a passagem do tempo sob a ótica masculina, sem mulheres no recinto. Além disso, os atores são de primeira: além do próprio Domingos, há o talento de Paulo José e do diretor de teatro Aderbal Freire Filho, ótimo em sua estreia na telona e mais charmoso que muito gurizote por aí.
A piada que ajudou a divulgar o filme no país surge logo no início (“existem três idades: a juventude, a maturidade e o ‘você está ótimo’”). Os três já entraram na fase do “você está ótimo”, o que não os livra de estarem ferrados.
Um deles vive um drama familiar e precisa de uma bolada de dinheiro, o outro está na dúvida se mantém um casamento secular ou se foge pra Veneza com um antigo amor que reapareceu, e o outro está casado com uma menina de 21 anos, mas não consegue tirar da cabeça a mulher da sua vida.
O filme é inteligente, melancólico e divertidíssimo, por conta principalmente das tiradas de Domingos Oliveira, que certamente contribuiu com muitos cacos durante a filmagem. São três seres humanos fazendo um compacto dos seus melhores e piores momentos, dando sabor às cafajestadas inerentes à raça e ao mesmo tempo demonstrando uma sensibilidade e uma propensão ao afeto que nem sempre os homens expõem.
Pensei: são três caras cultos, vividos, com um humor refinado. Como seria o encontro de três cascas-grossas? A tendência é imaginar que daria em baixaria, mas talvez não: todos os homens se apaixonam, sentem saudade, temem a morte, contam vantagem, são bons amigos.
Três cascas-grossas poderiam fazer piadas mais toscas, ter um vocabulário mais limitado, mas é provável que, diante da velhice, também se revelassem ternos, até mais ternos do que nós, mulheres, que quando nos reunimos discutimos a passagem do tempo mais pelo ponto de vista estético do que emocional, e não raro nos queixamos dos antigos amores em vez de homenageá-los.
Homens bacanas mantêm sua juventude rindo deles próprios e preservando um olhar adocicado em direção às mulheres que lhes fizeram felizes. São grandes meninos.
Estou saindo de férias, mas, antes que você dê por minha ausência, já estarei aqui de novo. Até breve.
Aproveite o dia - Uma ótima quarta-feira para você
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