sexta-feira, 16 de janeiro de 2009



16 de janeiro de 2009
N° 15850 - DAVID COIMBRA


Mariza e Rejane

Saí perplexo do Painel RBS, do qual participei ontem como entrevistador.

Perplexo, essa é a palavra.

A ideia era debater a Educação no Estado. Lá estavam, dois metros a minha frente, dentro de seus circunspetos casaquetos, a presidente do Cpers, Rejane de Oliveira, e a secretária de Educação, Mariza Abreu.

E em nenhum momento, nenhum minuto, nenhum átimo de segundo, elas tiveram um único ponto de contato. Nenhuma convergência, nenhuma concordância. Zero. A impressão é de que ali não se encontravam uma representante de entidade de classe e uma representante do governo; a impressão é de que ali se encontravam duas inimigas.

A presidente do Cpers, sobretudo ela, parece programada inexoravelmente para a oposição. Alguém dirá que sou contra o Cpers, ou contra os professores, ou a favor do governo, bibibi. Pouco se me dá. Não vou atrelar meu julgamento ao maniqueísmo tacanho que grassa pelo Rio Grande amado.

O fato é que, depois da experiência de ontem, passo a duvidar da possibilidade de que alguma proposta do governo, qualquer proposta, vá receber apoio ou sequer compreensão do Cpers.

O que me deixa desconfiado.

Segundo Rejane de Oliveira, o governo pretende liquidar com a Educação no Rio Grande do Sul e extinguir as supostas conquistas dos professores. Mas será possível isso? Será que um governo pode ser assim tão maligno? Tão mal-intencionado? Será que as pessoas que estão no governo pretendem o Mal e tão-somente o Mal? Tenho a tendência de suspeitar de tudo o que é apresentado como absoluto.

Existe uma tese de que é assim mesmo que funciona a engrenagem democrática: a oposição, por princípio, tem de se opor. Pelo menos é desta forma que se comporta a máquina democrática gaúcha. A oposição quase sempre é feroz e sistemática. A oposição é sempre do contra.

Em alguns lugares é diferente. Estive na Suíça, por exemplo, e lá é exatamente o contrário: lá eles tentam fazer com que todos os governos funcionem, a despeito de quem esteja no poder. Para isso os suíços promovem um rodízio.

Os partidos se revezam no comando do país, um período para cada um. Assim fica garantido que a obra de um não será desmanchada pela administração do outro. Afinal, um e outro sabem que, ali adiante, voltarão ao poder.

Não creio que seja uma fórmula aplicável ao Rio Grande do Sul, o Rio Grande do Sul, não há dúvida, não é a Suíça. Mas o exemplo mostra que existe alternativa à oposição incondicional. A colaboração, talvez. Ou, no mínimo, a tolerância.

No caso do Rio Grande do Sul, isso é impossível. Por essa razão, o Painel de ontem foi muito positivo. Mais do que apresentar as propostas do governo e do sindicato, expôs a intimidade da convivência entre as partes.

É como se elas fossem um casal e nós, entrevistadores, telespectadores, ouvintes, como se nós entrássemos na sala deste casal e privássemos com eles.

Como se acompanhássemos as discussões que têm todos os dias, no café da manhã, no almoço, no jantar. E, depois disso, ficamos, nós, lamentando. Porque o divórcio parece inevitável.

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