terça-feira, 13 de janeiro de 2009



13 de janeiro de 2009
N° 15847 - DAVID COIMBRA


A maior mulher do mundo

Qual é a mulher mais admirável da História? Sempre me faziam essa pergunta, quando lancei o livro Jogo de Damas, dois anos atrás. Qual, de todas aquelas mulheres de que trato no livro, era a minha preferida? Fácil.

A personagem feminina que mais me fascina na História da Humanidade é a imperatriz Valéria Messalina. Não por ser ela a maior devassa dentre bilhões de fêmeas vivas e mortas em 120 séculos de Civilização. E não estou exagerando.

Messalina era de tal forma libertina que seu nome transformou-se em adjetivo (consulte ao dicionário). Ao casar-se com o imperador Cláudio, fez dele, o próprio César, o homem mais poderoso do mundo, senhor de um império que ia da África à Britânia, fez dele o cornus maximus.

Messalina era uma loirinha dourada, magra, mas não muito. Suponho que legítimo exemplar de falsa magra. Passava os dias entregue a orgias. À noite, metia-se debaixo de uma peruca morena e ia prostituir-se na Suburra, o bairro das mulheres de vida fácil de Roma.

Galgava um tamborete e vendia seus favores por um punhado de sestércios. Quando a manhã raiava no Palatino, o proprietário do quarto alugado por ela tinha de mandá-la embora, ou Messalina continuava em suas atividades sem dar mostras de desânimo ou cansaço.

Certa feita, Messalina desafiou a meretriz mais famosa de Roma para um singular campeonato. Venceria a que conseguisse satisfazer mais homens apenas com as artes da felação durante uma única noite.

Quem venceu? Nossa heroína, claro. Legionários, gladiadores, atores, senadores, escravos, não havia homem que fosse rechaçado por Messalina. A todos satisfazia com igual empenho.

Mas não é por suas façanhas de alcova que a admiro. Admiro-a porque ela era movida pelo prazer. Messalina prostituía-se na Suburra, sim, mas não pelo dinheiro: por diletantismo. E Messalina, que virou sinônimo de prostituta (consultou o dicionário?), era de tudo no terreno da lubricidade, menos prostituta.

Refiro-me à acepção usual que a maioria das pessoas dá à palavra, de prostituta ser igual a mercenária. Discordo dessa opinião geral. Afinal, uma prostituta faz mal a alguém? Evidente que não.

Uma prostituta, ao contrário, dá prazer. Vende-o, verdade, mas tanto quanto um restaurante vende o prazer de uma boa refeição ou um escritor vende o deleite de se ler um belo texto. Além disso, a prostituta, enquanto vende o prazer, também pode sentir prazer, e, neste caso, provavelmente exercerá com maior eficiência o seu trabalho.

Eis aí: Messalina fazia o que fazia por amor. Não era uma mercenária. Não era uma prostituta no sentido compreendido pelos preconceituosos, ainda que fosse uma profissional do sexo.

Era aí que queria chegar. A essa palavra: profissional. Vejo jogadores justificando comportamentos nem sempre éticos com essa palavra. Eles são profissionais.

– Sou um profissional – alegam. – Faço o que faço por dinheiro.

É assim que se perde um grande jogador. Quando ele confunde profissionalismo com mercenarismo. O bom profissional não faz o que faz por dinheiro; faz por prazer. E quem faz o que faz por prazer, isso é certo, faz melhor.

Imagine como alguns de nossos grandes craques fariam bem, se continuassem fazendo por amor, como faziam quando começaram a jogar. Imagine como deveria fazer bem uma Messalina, que, mais do que qualquer outra, amava o que fazia.

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