quinta-feira, 22 de janeiro de 2009



22 de janeiro de 2009
N° 15856 - L.F. VERISSIMO


Celebridades

Ajuda se, antes ou além de ser presidente, você for uma celebridade. John Kennedy é um exemplo disto. Não foi um grande presidente, mesmo porque não teve muito tempo.

Mas sua promessa, sua imagem e tudo o que contribuiu para torná-lo uma celebridade – a boa estampa, a juventude, a família fotogênica – lhe garantiram um lugar na História maior do que sua presidência merecia.

Hoje se sabe que seus atos de heroísmo na guerra não foram bem assim, sua reputação intelectual era exagerada e ele devia sua eleição ao dinheiro e às manobras do pai, um conhecido patife. Não importa. A celebridade sobreviveu à desmistificação.

W. Bush conseguiu ficar oito anos na presidência sem se transformar em celebridade. O Nixon, tão anticarismático e lúgubre, que até hoje ninguém explica sua carreira política, também não chegou a ser celebridade. Jimmy Carter também não.

Ronald Reagan era, e a celebridade o ajudou a ser lembrado como um presidente marcante mesmo por quem abominava a sua política. Bush pai não era. Clinton continua sendo.

Já o Baraca foi eleito celebridade internacional antes de ser eleito presidente dos Estados Unidos. Sua viagem à Europa durante a campanha foi uma turnê de estrela pop e as multidões que iam vê-lo não iam ver o político, iam ver a celebridade.

Ele é o presidente mais exótico que já chegou à Casa Branca, o que lhe valerá cobertura inédita e mitificação instantânea. Sem nunca ter sido artista, costureiro ou playboy ou sequer ocupado outro cargo de comando, Barack Obama chega à presidência como a maior celebridade de todas.

Assistir à posse de um presidente americano é um pouco como assistir à entrega do Oscar. Você sabe que está apenas espiando uma festa autocongratulatória dos outros mas não pode deixar de se emocionar. Afinal, também é a maior festa republicana do planeta.

Por causa da cor da pele do Baraca, a emoção desta vez era maior – se bem que o fato de ele estar sendo empossado num prédio construído em grande parte por escravos é simbólico mas não é exatamente relevante: Barack Obama não descende de escravos. Mas foi bonito. No “mall” que separa o Capitólio do memorial ao Lincoln existe um grande lago.

Dizem que o Obama não quis ir a pé do Capitólio para a Casa Branca depois de empossado, como fez o Jimmy Carter, porque não resistiria à tentação de caminhar sobre as águas do lago. O que, isto sim, significaria uma revolução racial.

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