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terça-feira, 27 de janeiro de 2009
ELIANE CANTANHÊDE
Eleições e tentação populista
SANTIAGO DE COMPOSTELA - No domingo, o presidente Evo Morales ganhava na Bolívia o referendo que confirma a sua reforma constitucional e lhe dá o direito de concorrer à reeleição, num momento em que a tese dos mandatos sucessivos embriaga Hugo Chávez (Venezuela), Alvaro Uribe (Colômbia) e Rafael Correa (Equador) -e Lula diz que está com Dilma e não abre para 2010.
No mesmo dia, em Santiago de Compostela, Espanha, o secretário geral Ibero-americano, Enrique Iglesias, alertava jornalistas de toda a América Latina de que haverá 14 eleições presidenciais nesses três anos na região. E... eleições provocam tentação populista.
Populismo com dinheiro público é sempre preocupante, mas pode ter consequências dramáticas se combinado com crise econômica.
Significa gastar, quando a hora exige justamente o contrário. "Populismo social você até pode fazer quando há muito dinheiro circulando, como na década de 1970, mas a margem de manobra será infinitamente menor nesses próximos anos", disse Iglesias, ex-presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Ele lembrou que, além dos 1970, os anos 2000 também foram de crescimento e de redistribuição de renda na América Latina, onde os ventos favoráveis tiraram cerca de 50 milhões de pessoas da faixa de miséria e, no Brasil, "as coisas melhoraram ligeiramente".
Esses ganhos estão ameaçados com a sequência explosiva de recessão nos países ricos, retração no comércio mundial, menos investimentos nos emergentes e pobres e desemprego por toda parte. Definir gastos porque rendem votos pode ter efeito bumerangue, aprofundando a crise e refletindo negativamente nas urnas.
Falar e analisar é fácil, quanto mais à distância. Difícil é os governantes se convencerem e resistirem. Especialmente se são os votos deles próprios que estão em jogo.
elianec@uol.com.br
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