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sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
16 de janeiro de 2009
N° 15850 - PAULO SANT’ANA
Luxo, pompa, ostentação
Esses dias, escrevi uma coluna inteira criticando a verdadeira campanha que se fez aqui no Estado para enfraquecer a imagem da governadora Yeda Crusius, acusando-a de falta de exação ou de enriquecimento ilícito na compra da casa em que reside.
A campanha acabou trombando com a absolvição da governadora pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Contas.
A governadora deu de ombros para a minha coluna, como dá de ombros agora para a opinião pública ao lançar-se à aventura louca da compra de avião a jato que pode custar até US$ 26 milhões.
Até a vinda desse avião maldito, deverá decorrer um mínimo de 12 meses, gastos na licitação e outros preparativos para recebê-lo.
A governadora então usufruiria do equipamento durante apenas um ano, ou menos, de mandato que lhe restaria.
Por que então ela encasquetou que tem de comprar o avião? Porque a governadora se muniu de salto alto após ter promovido o ajuste fiscal e o equilíbrio das contas, subiu-lhe para a cabeça a glória do feito, a ponto de afrontar os governados com a concessão dessa autobenesse injustificável.
E porque a governadora dá, ao decidir que vai comprar o avião, a primeira demonstração de que quer reeleger-se: o avião lhe serviria então não por apenas um ano, mas por cinco.
Ainda ontem, uma dirigente do Cpers, no Painel RBS, dizia que não é verdadeira a falta de dinheiro nos cofres do Estado, tanto que a governadora “está comprando um avião”.
Mas será que a governadora não percebeu que a compra desse avião será um estigma político inafastável que ela carregará pelo restante do seu mandato?
Será que a governadora não percebe que a imagem decorrente da compra desse avião é de pompa, luxo e ostentação?
Se a governadora viaja na maioria das vezes para Brasília, algumas poucas vezes para São Paulo, o que custaria, para manter uma imagem de austeridade de seu governo, que fretasse, a cada vez que houvesse necessidade de viajar, um jato de aluguel?
Essas poucas viagens que a governadora faz depõem tecnicamente para a compra desse avião, que se tornará supérfluo e antieconômico tanto em sua aquisição quanto em sua caríssima manutenção: não se pode comprar um avião para ele ficar parado, avião foi feito para voar. E se a governadora quer que seu avião passe todos os dias voando, certamente o usará em viagens desnecessárias de seu staff, se quiser justificar a grandeza das despesas.
E, se quisesse ainda mais manter uma imagem de austeridade de seu governo, a governadora viajaria para Brasília de avião de carreira: que belo exemplo daria aos seus governados!
Se pretende reeleger-se, como agora demonstra ao designar a compra de um avião que lhe serviria por cinco anos, a governadora deveria saber que esse avião, ele sozinho, com os efeitos maléficos que se desprenderão de sua aura de esbanjamento, acabará por impedir-lhe de ser reeleita, o estrépito da compra desse avião em pleno espocar da crise econômico-financeira mundial, que atingirá fatidicamente os cofres públicos estaduais, vai funcionar como uma canga pesada e insustentável para a governadora, retirando-lhe prestígio no propósito de permanecer no Piratini por mais quatro anos.
Se a governadora não percebe que a cada dia que passar no seu governo, doravante, terá de lidar com o estorvo desse avião nos embates retóricos com o funcionalismo, sedento e necessitado de salários, então ela está muito enganada.
Se a governadora não percebe que ao propor a compra deste avião soltou as rédeas dos apetites salariais do funcionalismo e de todos os setores dos três poderes, então está desmentida a sensibilidade política que parecia ser a sua maior virtude.
Se a governadora comprar esse avião, eu não tenho mais condições de defendê-la em nada. Mas eu não influo em nada. Ela dá de ombros para esta coluna.
Só que o punhal afiado da opinião pública vai cair de paraquedas sobre a garganta da governadora, se ela comprar este avião.
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