quarta-feira, 14 de janeiro de 2009



14 de janeiro de 2009
N° 15848 - SERGIO FARACO


Pelado e de mão no bolso

Acossados pelos assaltantes, a cada dia os bancos implantam novas regras de segurança, e nem assim escapam dos prejuízos causados pelos roubos. Quem deveria ser responsabilizado por esse descalabro é o Estado, mas quem paga o pato é o cidadão. Tempo haverá em que, para entrar num banco, ele terá de se despir.

Outro dia fui a um deles, na Tristeza, fazer pagamentos. Cumpri as formalidades impostas ao público, entregando as chaves e o celular ao guarda, e ele me surpreendeu com o aviso de que nem a bolsa podia levar, tinha de deixá-la no armário do saguão.

Atrapalhado com meus papéis, guardei a bolsa, dela retirando a carteira. E segui para a fila do caixa. Quando chegou minha vez... bah, cadê a carteira? Retornei ao saguão, abri o armário e nem sinal. Refiz o trajeto até o caixa, e nada. Quem sabe a extraviara no Correio, onde antes estivera? Tinha certeza de que ali mesmo a pescara da bolsa, mas, admitindo, ou antes desejando que a certeza mascarasse um delírio, fui ao Correio.

E nada. Voltei ao banco.

Preocupado, decerto, lá se iam cartões de crédito, cédulas de identidade e habilitação, talão de cheques, sem falar em meus laboriosos pilas. Ocorreu-me, então – já sem esperança –, fazer o que devia ter feito antes, isto é, perguntar ao guarda se alguém achara uma carteira.

– Qual a cor? – Marrom. Não é que ele levantou um pano em seu balcão e a carteira estava ali? Fora encontrada sobre o armário por uma senhora que saía.

Que coisa, não? Cruzara pelo saguão, minutos antes, um raro espécime da etnia tupiniquim.

Deparar com uma dessas honradas criaturas é um felicíssimo acaso, como um bambúrrio, mas que existem, existem, e estão por aí, anônimas, discretas – talvez sejam elas as escoras que ainda mantêm em pé sociedades cuja propensão é rastejar como os lagartos.

Desde tal dia, quando preciso pagar contas, já saio de casa mais ou menos pelado, levando no bolso tão-só o que é indispensável. Tenho a satisfação de informar que, naquele banco, ainda não me pediram para tirar as calças.

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