quarta-feira, 3 de outubro de 2007



03 de outubro de 2007
N° 15385 - David Coimbra


Mulheres de minissaia e botas

Já disse que adoro mulheres de botas?

Cara, adoro mulheres de botas. De botas e minissaia, então, Jesubambino! Têm uma aragem ousada a lhes envolver, as mulheres de botas e minissaia, têm um certo olhar de promessas e de afronta, aiai.

Outra: vamos supor que vá ali no bar do meu amigo Atílio, o Jazz Café, e junto comigo esteja uma mulher de minissaia e botas.

Certo. Aí peço, como sempre peço, uma Paulaner bem gelada servida naquele copão da altura de uma página de jornal. Então, olho para a mulher de minissaia e botas que me acompanha e pergunto:

- O que você vai querer, beibe?

Ela responde, com sua voz de leite condensado caramelizado, flocos crocantes e chocolate Nestlé:

- Uísque.

Bom, aí fico nervoso. Respeito uma mulher que bebe uísque. E se ela bebe uísque e usa minissaia e botas, se ela tem todas essas credenciais, lágrimas me turvam os olhos, suspiro de emoção e digo:

- Wolfrembaer.

Agora tem o seguinte: não gosto daquelas botas de sola alta que as mulheres estão usando. Solados de quatro dedos de altura, por favor. Explícito demais. Fica muito óbvio que a mulher está disfarçando a altura.

O salto alto, o escarpim, esse não. O salto alto representa a mulher na ponta dos pés. Quer dizer: ainda é o corpo da mulher. Só que potencializado.

Ela se torna mais elegante, os músculos da panturrilha se alongam, os da coxa ficam torneados e os glúteos empinam-se graciosamente, como se estivessem alegres pelas belezas da vida.

Talvez seja um sacrifício para as mulheres caminhar o dia inteiro em cima de saltos de 10 centímetros, mas o resultado compensa, decerto que compensa.

A diferença é sutil, mas profunda: o salto alto é genuíno; o solado largo é grosseiro. As botas de solado largo fazem a mulher perder a autenticidade, e, quem perde a autenticidade, perde a elegância.

Eis a palavra: autenticidade. Quase um sinônimo de honestidade. Vale para tudo. Uma história contada com autenticidade é em geral uma história bem contada, uma pessoa autêntica é quase sempre uma pessoa benquista, um time autêntico é um time que funciona. O Grêmio é assim. O Grêmio encontrou sua forma de ser.

Pode perder, pode jogar mal, mas, se jogar como o Grêmio tem de jogar, com a galhardia histórica do Grêmio, será aplaudido pela torcida. Porque estará sendo autêntico. Sejamos autênticos. Não usem mais essas botas desairosas, meninas.

Démodé

O princípio formador de uma torcida de futebol tem certo ingrediente fascista. Nós somos melhores do que eles, é o que acreditam os torcedores intrinsecamente.

Todos os torcedores.

O sonho de um gremista, para ficar no exemplo caseiro, é provar que o Grêmio é, por definição divina, ou natural, ou histórica, melhor do que o Inter. O sonho do colorado é exatamente igual. Mas o pior não é um e outro cevar esse sonho.

É um e outro acreditar que isso seja verdadeiro. Recebo manifestações fascistas de torcedores o dia todo, todos os dias, e todos os dias penso na quantidade de palhaços que é preciso reunir para se fazer um mundo.

Por tudo isso, não me surpreendem os nazistinhas travestidos de gremistas que foram presos ontem. O que me surpreende é alguém, ainda hoje, falar em nazismo, fascismo ou racismo.

Essas coisas estão fora de moda. Esse pessoal precisa descobrir que há muitas outras formas mais modernas de ser burro.

Cuidado com a tosse!

Tenho medo da tosse. De qualquer tosse. Por causa dos filmes. Porque nada mais certo: sempre que o cara tosse num filme, o cara vai morrer.

Nem que comece com um só cof, não adianta: tossiu, morreu. Pior: o morto sempre é um bonzinho. Ele começa escondendo a doença, dizendo que não é nada, que vai passar.

Todo mundo acredita, ninguém pensa em dar um xarope para o sujeito ou levá-lo à Sandu. Mais adiante, ele vai escarrar sangue. No final, é aquilo: o coitado profere uma última frase com fundo musical e... que a terra lhe seja leve.

Essa experiência cinematográfica deixou-me com péssima impressão a respeito da tosse. Ouço alguém tossir, penso: foi-se. Um sinal infalível, a tosse. Presto muita atenção aos sinais.

O Inter, por exemplo, apresenta sinais preocupantes. Joga mal, perde. Joga bem, perde também. E seus adversários diretos ganham, ganham, ganham.

Mesmo os mais improváveis vitoriosos, como o Náutico, vão lá e ganham. Eu ficaria alerta. Eu arranjaria um xarope de uma vez. Antes da cena final.

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