terça-feira, 2 de outubro de 2007



02 de outubro de 2007
N° 15384 Paulo Sant'ana


55 milhões de favelados

O meu amigo e colega, o imortal Moacyr Scliar, é um otimista.

Volta e meia ele passa aqui pela sala e me diz que a taxa de natalidade no Brasil está baixando a nível animador.

É um ingênuo o Scliar. Enquanto ele cisma, as pessoas vão fabricando mais pessoas.

Tanto que a ONU divulgou agora um relatório em que afirma que em 2010, portanto daqui a pouco mais de dois anos, o Brasil atingirá a marca sinistra de 200 milhões de habitantes.

Em 1970, Copa do Mundo, éramos "90 milhões em ação/ pra frente Brasil/ salve a seleção!", na célebre marchinha de Miguel Gustavo.

Pois 40 anos depois, agora, mais do que dobraremos o número de brasileiros, vamos nos favelizando tanto quanto Índia, China, Nigéria, Paquistão e Bangladesh.

Quando se sabe, meu caro e outro otimista inveterado, secretário estadual de Saúde, Osmar Terra, como se soube ontem, que no Brasil, a cada quatro pessoas, três dependem do SUS - e eu acredito que dessas três apenas uma desconte para a Previdência, imagine o que será do Brasil daqui a menos de três anos, secretário Terra, imagine!

Imagine que a ONU está dizendo que já somos quase 50 milhões de favelados no Brasil.

E que em 2020, daqui a um pouquinho, serão 55 milhões de favelados no Brasil, ou seja, mais de um entre quatro brasileiros são e serão favelados, imagine para onde estamos indo, a miséria e a fome progridem a olhos vistos.

E vá fabricar gente, e vá sexo febril entre os favelados, uma farra afrodisíaca. E depois as grandes cidades e as médias também que se ralem com esses milhões de desempregados que são atirados ao mundo sem perspectiva, condenados às drogas e à violência.

E vá nascer gente, como diz o Chico Buarque no seu O Meu Guri: Quando seu moço. Nasceu meu rebento Não era o momento Dele rebentar Já foi nascendo Com cara de fome. Eu não tinha nem nome Pra lhe dar.

Vai daí que só São Paulo detém 1% dos homicídios de todo o mundo. Uma cifra inacreditável, mata-se 17 vezes mais em São Paulo do que em Nova York.

E números ainda mais perplexos cercam a história da criminalidade no Brasil: cem pessoas morrem por dia, em território brasileiro, vítimas de armas de fogo.

O que quer dizer que no Brasil nasce bastante gente para morrer, a balaços ou na fila das cirurgias e das consultas e dos transplantes do SUS.

Nasce e nasce cada vez mais gente para sofrer e para morrer.

Com esse crescente desemprego, com essa pobreza, com essa desigualdade social e, principalmente, com essa explosão demográfica de cada vez mais irem nascendo bebês entre os pobres, assim não dá para ser otimista.

O Brasil está cada vez mais virando uma grande favela.

Nenhum comentário: