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Os extremistas estão chegando
A centro-direita conquistou a maioria dos votos nas eleições na Alemanha. Estamos falando da CDU (União Democrata-Cristã), do líder Friederich Merz, a direita moderada, que imprime uma derrota mordaz à centro-esquerda e encerra a era Olaf Shcolz no poder.
Mas essa não é a notícia. A informação relevante e com a qual todos deveríamos nos preocupar é que a AfD (Alternativa para a Alemanha), o partido de extrema direita, ficou em segundo lugar. Sejamos claros: na Alemanha, no país que foi palco da experiência nefasta do nazismo, neste momento, a ultradireita, de princípios xenófobos, racistas, anti-imigração, está se tornando a segunda maior força do Bundestag (parlamento alemão). Não é pouco. É terrível.
É sinal dos tempos. Não é um fenômeno isolado: a extrema direita vinha ganhando força na Áustria, na Itália, na Holanda e na França. Agora, chega à Alemanha. Não pode ser visto como algo comum. Deveria provocar estupor pelas memórias que suscita.
Desde a Segunda Guerra Mundial, um partido extremista não alcançava tamanho poder no país de Adolf Hitler. Na mente, vem à memória a República de Weimar, a erosão das siglas de centro, o fim do diálogo.
Há, por óbvio, explicações: o momento econômico, a crise migratória, o medo da Rússia (que Donald Trump só alimenta) e tudo mais. Mas a adesão de eleitores não se traduz, necessariamente, pelas políticas externas. Há uma grande desilusão com as promessas não absorvidas pela globalização.
A AfD, por enquanto, não deve chegar a indicar o chanceler, já que todos os partidos avisaram que não pretendem se aliar com a sigla para formar um novo governo. Há um certo corredor sanitário. Mas até quando a fronteira entre a democracia e o abismo irá se manter impenetrável é algo que não sabemos. _
Para ficar por dentro - O conclave da vida real
Para quem se interessa sobre as regras que regem um conclave (da vida real), sugiro o livro de John Allen Jr. Conclave - A política, as personalidades e o processo da próxima eleição papal. Foi escrito no momento em que havia o evidente declínio da saúde do papa João Paulo II, em 2005. Foi minha cartilha no Vaticano durante a cobertura daqueles dias em Roma. O jornalista Allen Jr. era correspondente na capital italiana da National Catholic Reporter. É um dos maiores entendedores da política do Vaticano no século 21. _
No mínimo, devo dizer que a obra faz uma crítica ao catolicismo, portanto, não espere, necessariamente, uma história religiosa.
Vou me deter à política, que conheço um pouco após a cobertura de dois conclaves: a sucessão de João Paulo II, em 2005, e de Bento XVI, em 2013. Falei "política", porque, sim, embora a Igreja tenha sua porção sagrada, há uma parte humana, que, dia a dia, intramuros, é acometida pelo modo de gerir comezinho dos humanos. E essa porção nem sempre conhecida dos purpurados vem à tona no conclave, a eleição do papa: as alianças, as expectativas e visões de mundo de cada um dos cardeais, o conflito constante entre tradição e modernidade.
Nisso, o filme de Edward Berger é exemplar: revela os jogos de poder, a velha disputa entre cardeais progressistas (o cardeal Thomas Lawrence) e conservadores (o cardeal Godofredo Tedesco) e, sobretudo, o poder da Cúria.
Aliás, escrevi, no fim de semana, que o Papa é prisioneiro do trono de São Pedro. Lembrei, ao assistir ao filme, que o Pontífice é, verdadeiramente, refém da Cúria - a burocracia da Santa Sé, onde tudo se move mais devagar ainda do que em um governo laico.
O Vaticano é uma monarquia teocrática - e além da burocracia de qualquer Estado, há, ainda, os dogmas de fé, a tradição, as puxadas de tapete e o poder. Ah, vaidade é um pecado capital, mas, não esqueçamos a porção humana da Igreja, de que já falei.
O filme é bom, embora as cenas um pouco escuras para meu gosto. Também senti falta de mais expressões extramuros, mas entendo a opção do diretor em enfatizar a clausura. A obra aborda o papel secundário reservado às mulheres no clero, especialmente das religiosas. Existe uma dificuldade além de se buscar, nos tempos atuais, o isolamento total dos cardeais do mundo exterior.
Lawrence é o mais antigo dos cardeais. Cabe a ele administrar a "sede vacante" até que o novo Papa seja eleito. Vive os dilemas de organizar uma eleição na qual ele próprio pode ser o eleito. Josef Ratzinger, em 2005, era o decano.
Contradisse a máxima do conclave de que, quem entra papa sai cardeal. O alemão entrou papa e saiu... Papa.
Casa dos Raros - Conferência na UFRGS sobre crise climática
O projeto RS: Resiliência & Sustentabilidade, que ocorrerá no Salão de Atos da UFRGS, é fruto de cooperação entre a Secretaria para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, do governo federal, e a Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). A iniciativa apoia 10 linhas de pesquisa das universidades federais gaúchas. _
Em tempo: na vida real, se o pior ocorrer no Vaticano, e o papa Francisco morrer, o papel exercido na ficção por Thomas Lawrence, vivido pelo ator Ralph Nathaniel Twisleton-Wykeham-Fiennes, será exercido pelo cardeal italiano Giovanni Battista Re. Ele é o decano do colégio cardinalício, logo, o administrador de eventual conclave.
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