quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025


19 de Fevereiro de 2025
OPINIÃO RBS

Monumentos à incúria

O Palácio Piratini formalizou na segunda-feira a retomada das obras da barragem do Arroio Taquarembó, em Dom Pedrito, na Região da Campanha. É mais um capítulo da saga dos reservatórios das regiões da Campanha e da Fronteira Oeste anunciados na gestão Yeda Crusius (2007-2010) e até hoje inconclusos. A outra barragem é a do Arroio Jaguari, em São Gabriel, com trabalhos em andamento. Ambas tiveram o planejamento acelerado após as fortes estiagens da primeira metade da década de 2000. Foram concebidas para beneficiar com irrigação uma área de 117 mil hectares e ainda fortalecer sistemas de abastecimento urbano.

Aguarda-se que, desta vez, os prazos prometidos sejam honrados. O fato é que, desde 2009, quando as obras foram iniciadas, sucessivas projeções para a finalização das barragens foram frustradas. O rosário de imbróglios que levou a diversas paralisações inclui problemas com licenciamento ambiental, denúncias de fraude em licitações, erros e correção de projetos, falta de recursos e abandono de empresas, entre outros embaraços. À época do lançamento, foram considerados os mais arrojados empreendimentos de recursos hídricos do Estado. Mais de uma década e meia depois e após outra sequência de estiagens, tornaram-se monumentos à incúria.

O canteiro de obras da barragem do Arroio Taquarembó estava parado desde 2017, com 60% dos trabalhos concluídos. Segundo o governo gaúcho, a volta aos trabalhos foi possível a partir de um sinal verde do Tribunal de Contas do Estado (TCE), após a Corte questionar pontos do contrato em vigor com empreiteiras. Para finalizar a obra, serão aportados R$ 151 milhões, sendo R$ 88,6 milhões do Estado e R$ 62,3 milhões da União. A barragem também pega parte do território de Lavras do Sul e beneficia ainda Rosário do Sul. A nova promessa é tentar entregá-la até o final de 2026. O custo total se aproxima de R$ 250 milhões.

Na barragem do Arroio Jaguari, a execução beira os 80% e a previsão é finalizá-la em março do próximo ano. Os trabalhos foram reiniciados no ano passado, após paralisação também datada de 2017. O custo para terminá-la foi orçado em R$ 74,7 milhões - R$ 65 milhões do Estado e R$ 9,7 milhões federais. Construída no limite entre São Gabriel e Lavras do Sul, vai favorecer ainda Cacequi e Rosário do Sul.

Para que todo o potencial das barragens se torne realidade, ainda será preciso esperar pela construção de canais de irrigação. São necessários para distribuir a água dos reservatórios. Espera-se que não se tornem novas obras lendárias e, em um futuro não muito distante, auxiliem na proteção contra secas e ajudem a elevar as produtividades de lavouras de soja, milho e arroz. O modelo de gestão também espera definição, mas há boas referências no Estado, como o da Associação dos Usuários do Perímetro de Irrigação do Arroio Duro, em Camaquã.

Conhecer todos os entraves enfrentados pelos projetos das duas barragens na Metade Sul também é importante em um momento em que o Rio Grande do Sul está prestes a dar início a grandes obras de contenção de cheias, complexas e que exigirão investimentos vultosos. Além de estudar bons exemplos, é essencial saber no que se deve prestar atenção para evitar percalços. 

OPINIÃO RBS

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