quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025


06 de Fevereiro de 2025
LUCIANO POTTER

Rezar pelos filhos

Minha mãe diz assim pra mim: vou rezar por ti, meu filho? Quando criança eu fechava os olhos pra dormir, porque ela tava se despedindo de mim naquele dia. Quando eu era pré-adolescente eu achava estranho. Por que rezar, mãe? Eu fiz algo errado? O dia foi tão "normal", pra que isso tudo.

Quando eu fiz 18, até os 30 e poucos, saí de perto da minha mãe pra estudar, trabalhar, outras cidades, outra vida. Aí não era mais ao vivo. Era no telefone, geralmente no final da ligação que eu apressava pra terminar logo pra fazer algo mais legal do que falar com minha mãe, ora!

Também tinham mensagens trocadas. Mensagens pra ler mesmo. Antes SMS, torpedos, lembra? Depois WhatsApp, DMs, essas coisas tecnológicas que minha mãe aprendeu a lidar pra falar para os filhos que ela ama eles e que ela rezaria por eles.

Mas, nessa época toda, eu era ateu. Deus não existia, rezar, portanto, era bobagem. Nos finais das ligações, nas palavras derradeiras de diálogos escritos, lá estava minha mãe dizendo que rezaria. E ela rezava por dois motivos. Um era proteção. Havia um problema, uma meta, algo a ser ultrapassado. Minha mãe rezava por mim.

Tinha uma alegria, uma conquista, se rezava para agradecer. E eu, ali, cheio de ateísmo, cheio de si. Minha mãe, dias desses, depois de eu contar que um amigo enfrentava uma barra, uma conversa triste, disse que rezaria por ele. Respondi "faz isso sim". E foi de coração aberto.

Não sou mais ateu. Sou científico. Não há ciência humana que nos dê resposta 100% assertiva de que Deus existe. Nem que não existe. Então fiquemos aí. Até porque minha mãe nunca quis dar um tom religioso às rezas. Ela só queria dar carinho. Pro menininho de cinco anos, para o garoto de 12, o adolescente de 17, o homem de 32 e agora o pai de dois de 45. Minha mãe rezava, sim, eu sei.

Mas minha mãe, na verdade, lá no fundo, só estava dizendo, de outra maneira, com outra ação, que me ama. Do fundo do coração dela. Nunca foi só religião. Mas sempre foi só o mais puro, sensível, doador e gigantesco carinho. Sempre foi uma declaração de amor.

Mamães? Continuem rezando pelos seus filhos. Um dia eles vão entender?  O conteúdo desta coluna reflete a opinião do autor

LUCIANO POTTER

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