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17 de Fevereiro de 2025
CLÁUDIA LAITANO
Guerra cultural
O termo "guerra cultural" acaba de ganhar um sentido um pouco mais literal no pandemônio institucional do governo Trump 2. Com tanta tarifa para aumentar, tanta treta para inventar, em casa e no resto do mundo, o primeiro imperador da República tirou um tempinho para se autonomear presidente do conselho do Kennedy Center, uma das instituições culturais mais importantes do país, localizada em Washington. Imaginem Bibo Nunes demitindo Dona Eva e assumindo o cargo de diretor do Theatro São Pedro. É mais ou menos por aí. Não, é pior.
Depois de demitir todos os diretores e preencher os cargos com pessoas de sua confiança, contrariando a tradição de bipartidarismo da instituição, Trump comemorou a conquista do novo território postando em suas redes sociais uma imagem falsa, gerada por inteligência artificial, em que aparece travestido de maestro, regendo uma orquestra imaginária: "Bem-vindos ao novo Kennedy Center!". (Freud teria uma ou duas coisas a dizer a respeito, imagino.)
Esnobado pela elite cultural de Washington em seu primeiro mandato, Trump nunca compareceu ao Kennedy Honors, evento promovido pelo Kennedy Center ao qual presidentes e primeiras-damas tradicionalmente comparecem - e que já homenageou artistas como Joni Mitchell, Francis Ford Coppola e George Clooney. O primeiro casal também nunca foi visto assistindo a um balé ou se emocionando durante uma ópera. Agora chegou a vez de colocar o pé na porta.
- Começa uma era de ouro para as artes e a cultura. Chega de shows de drags e propaganda antiamericana. Vamos ter apenas o melhor! - anunciou o autoinvestido árbitro da moral e do bom gosto nacionais.
Muitos artistas já avisaram que vão cancelar suas participações em eventos do centro cultural. Haja Village People para preencher a programação.
Neste segundo mandato, já não é suficiente agradar os amigos delegando tarefas que eles não terão competência para executar, o que equivale a desmontar sem admitir que se está desmontando, como fez Bolsonaro ao nomear um ator de Malhação para o cargo de secretário de Cultura. Acabou a fase da esculhambação e do desmonte, que mata à míngua o que contraria a ideologia vigente. Ao intervir diretamente na administração de uma instituição cultural, Trump deixa claro que os maestros que admira não são Leonard Bernstein ou Herbert von Karajan, mas Viktor Orban e Vladimir Putin. _
O conteúdo desta coluna reflete a opinião do autor
CLÁUDIA LAITANO
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