05 de Fevereiro de 2025
CARPINEJAR
O melhor orador
Dificilmente alguém ganharia dele. Nenhum best-seller, nenhum autor estrangeiro, nenhuma celebridade local conseguia superar a sua fila de autógrafos na Feira do Livro de Porto Alegre.
Ele atraía multidões.
Mesmo nos momentos mais felizes, nos livros mais inspirados, ficar ao lado dele no pavilhão de autógrafos não tinha graça. Não estou me referindo a um escritor, mas a um orador: Pedro Simon, que acaba de completar 95 anos.
Seus discursos no Senado, quando reunidos em antologia, mantinham um séquito fiel. Não houve, no cenário gaúcho, um melhor senador do que ele. Uma vitrine de integridade e coerência que nunca trincou ou conheceu o impacto de alguma pedra.
Ele deixaria Alberto Pasqualini com inveja, Getúlio Vargas com asma, Leonel Brizola nervoso. Sua desenvoltura na tribuna era com o corpo, os braços indo e vindo como remos de um barco. Mostrava-se inflamado e lúcido, alternando gritos e suspiros, diante das quedas e precipícios da história política brasileira.
Ele se esgoelava se necessário, sussurrava no instante de pesar, mas, principalmente, falava com o sol dos olhos miúdos e a lua das sobrancelhas espessas, gesticulando sem parar, convulsionando o tórax, bailando consigo, numa dança que poderia durar até duas horas.
Os adjetivos eram seus melhores amigos. Na Nova República, foi o segundo senador que por mais tempo serviu ao Congresso Nacional, com quatro mandatos (três consecutivos), somando 32 anos de defesa à democracia.
Não tem como esquecer seu discurso durante o velório do ex-presidente João Goulart, o Jango, que foi deposto pelo golpe militar de 1964 e morreu no exílio. Então deputado estadual, Simon, prostrado à beira do túmulo em São Borja, fez chorar um público de aproximadamente 50 mil pessoas.
Com o peso da sua palavra ao microfone, ele derrubava ministros. Duas baixas da gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso merecem ser creditadas à sua lábia: o ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, e o chefe da Casa Civil, Clóvis Carvalho.
Coordenou o movimento Diretas Já e se consagrou como figura decisiva do processo de redemocratização do país, junto de lideranças como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Franco Montoro, Teotônio Vilela e Mário Covas. Depois se apresentou como peça indispensável para o impeachment de Fernando Collor.
Não existem mais políticos como ele, capazes de tremer as bases de um governo com metáforas e um bom jogo de paradoxos.
Iniciou a sua carreira como vereador de Caxias do Sul, exerceu a legislatura estadual por quatro mandatos, governou o Estado de 1987 a 1990, atuou como ministro da Agricultura durante o governo Sarney. A prática o levou à perfeição.
Além de ser um exemplo de posicionamento firme, ensinou que a fidelidade partidária é possível.
Num mundo egoico, de palanques volúveis, de candidatos trocando de siglas em cima das eleições ou inventando novos partidos para assumir a cabeça de chapa, Simon permanece há seis décadas no Movimento Democrático Brasileiro (MDB), do qual é um dos fundadores.
Saudade de ter um senador desse porte, dessa grandeza, dessa fleuma nos representando. Jamais ele diria que está velho demais para ajudar o Rio Grande do Sul numa calamidade. _
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