terça-feira, 18 de fevereiro de 2025



18 de Fevereiro de 2025
NÍLSON SOUZA

Pisando em ovos

Quem veio primeiro: o ovo ou a inflação? Se já havia uma controvérsia histórica entre a primazia da galinha ou do seu cobiçado produto, agora ela se transfere para a alta desenfreada dos alimentos que, somada a outros fatores, está sendo apontada como causa da baixa popularidade do governo.

Nem é preciso ser versado em economês para entender a valorização do ovo: os norte-americanos eliminaram milhões de galinhas devido à gripe aviária, a produção escasseou por lá e o preço disparou - para eles e para nós, que somos exportadores deste alimento rico em proteínas, vitaminas e minerais. Simples assim: menos ovo no mercado interno, mais caro também para os brasileiros.

E a culpa, certamente, não é da Galinha Pintadinha.

Aliás, somos exploradores pouco sensíveis desta simpática ave que passa a vida produzindo e, invariavelmente, vai para a panela quando se torna improdutiva. Sua carne é a mais consumida pela humanidade. Segundo um estudo recente publicado pela revista Royal Society Open Science, a massa total das galinhas domésticas equivale ao triplo de todas as espécies de aves selvagens reunidas. É galinha que não acaba mais.

E o ser humano submeteu de tal forma essa ave indefesa que alterou significativamente sua morfologia, gerando em algumas décadas uma nova forma de animal - transformação que a natureza leva milhões de anos para executar. A galinha doméstica é outro bicho, se comparada a seus ancestrais selvagens. De acordo com o referido estudo científico, as aves criadas em cativeiro têm corpo maior, patas deformadas e o coração enfraquecido. E ainda surripiamos seus ovos, que agora valem mais do que as criptomoedas do senhor Milei.

Antes que algum trocadilhista me acuse de estar com pena das galinhas, registro aqui as soluções que encontrei para a controvérsia milenar e para o dilema polarizado: se você é criacionista, a galinha veio primeiro; se você é evolucionista, o ovo foi deixado pelos dinossauros antes de a galinha cacarejar pela primeira vez no planeta. Se você é governista, o preço do ovo logo voltará ao normal. Se você é oposicionista, tão cedo não comeremos omeletes.

Se você é cronista, agradeça aos leitores pela paciência. _

NÍLSON SOUZA

Nenhum comentário: