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Não seja imbecil
Imagine você chegar ao topo da carreira, alcançar tudo que sempre desejou, ser indicado ao prêmio mais importante da sua profissão e, de repente, passar a ser odiado. É uma situação cinematográfica. E também é uma situação real.
A protagonista do filme mais falado no ano, a atriz espanhola Karla Sofía Gascón, é quem vive esse drama. Postagens antigas feitas por ela no Twitter arruinaram o presente glorioso de alguém que batalhou anos para chegar até aqui. Triste fim de uma carreira até então meteórica e promissora.
Nos tweets polêmicos, ela chegou a criticar a própria cerimônia do Oscar de uns anos atrás, foi preconceituosa com muçulmanos e deu opiniões ácidas e atravessadas sobre outras atrizes, hoje em dia colegas de elenco.
O destino é implacável, assim como as marcas digitais podem ser eternas. Escrever na internet passa a falsa sensação de estar imune ao julgamento real. É como se as pessoas assumissem outras personalidades. Sensação de terra sem lei, de algo passageiro. Mas não é.
Uma jornalista canadense, muçulmana, acabou ao acaso desenterrando a ficha corrida de Gascón. Em pouco tempo, a internet foi à loucura! Na época em que foram publicados os tweets nem viralizaram, mas o contexto mudou. A então desconhecida agora é (ou era) uma estrela mundial.
Esse episódio trágico mostra bem que nunca devemos ofender os outros pra buscar curtidas, nem querer causar impacto sendo idiota. A internet é uma realidade paralela a que qualquer pessoa tem acesso. É mais fácil passar por cima de algo que aconteceu na vida real do que apagar pra sempre algo dito no calor do momento, mas publicado na rede. Basta um print, e jamais vão esquecer.
À Karla, meu desejo sincero que ela se arrependa e mude. Todos têm direito de mudar, de melhorar. Mas também tenho total convicção que essa situação toda foi usada pra maquiar a transfobia de muita gente que, agora, sente coragem para criticá-la.
O filme Emilia Pérez estreou no Brasil nesta semana. Certamente muita gente vai ir ao cinema pra ter alguma opinião sobre esse longa que concorre a 13 estatuetas do Oscar. Não é o hate à protagonista que deve impedir ninguém de, ao menos, ver do que se trata. Eu ainda não vi, mas já li várias críticas sobre o exagero, a maneira estereotipada com que retratam a transição de gênero e músicas sem sentido no enredo. Vou pagar pra ver. Estou curioso!
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