sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025


07 de Fevereiro de 2025
MARCO MATOS

Não seja imbecil

Imagine você chegar ao topo da carreira, alcançar tudo que sempre desejou, ser indicado ao prêmio mais importante da sua profissão e, de repente, passar a ser odiado. É uma situação cinematográfica. E também é uma situação real.

A protagonista do filme mais falado no ano, a atriz espanhola Karla Sofía Gascón, é quem vive esse drama. Postagens antigas feitas por ela no Twitter arruinaram o presente glorioso de alguém que batalhou anos para chegar até aqui. Triste fim de uma carreira até então meteórica e promissora.

Nos tweets polêmicos, ela chegou a criticar a própria cerimônia do Oscar de uns anos atrás, foi preconceituosa com muçulmanos e deu opiniões ácidas e atravessadas sobre outras atrizes, hoje em dia colegas de elenco.

O destino é implacável, assim como as marcas digitais podem ser eternas. Escrever na internet passa a falsa sensação de estar imune ao julgamento real. É como se as pessoas assumissem outras personalidades. Sensação de terra sem lei, de algo passageiro. Mas não é.

Uma jornalista canadense, muçulmana, acabou ao acaso desenterrando a ficha corrida de Gascón. Em pouco tempo, a internet foi à loucura! Na época em que foram publicados os tweets nem viralizaram, mas o contexto mudou. A então desconhecida agora é (ou era) uma estrela mundial.

Esse episódio trágico mostra bem que nunca devemos ofender os outros pra buscar curtidas, nem querer causar impacto sendo idiota. A internet é uma realidade paralela a que qualquer pessoa tem acesso. É mais fácil passar por cima de algo que aconteceu na vida real do que apagar pra sempre algo dito no calor do momento, mas publicado na rede. Basta um print, e jamais vão esquecer.

À Karla, meu desejo sincero que ela se arrependa e mude. Todos têm direito de mudar, de melhorar. Mas também tenho total convicção que essa situação toda foi usada pra maquiar a transfobia de muita gente que, agora, sente coragem para criticá-la.

O filme Emilia Pérez estreou no Brasil nesta semana. Certamente muita gente vai ir ao cinema pra ter alguma opinião sobre esse longa que concorre a 13 estatuetas do Oscar. Não é o hate à protagonista que deve impedir ninguém de, ao menos, ver do que se trata. Eu ainda não vi, mas já li várias críticas sobre o exagero, a maneira estereotipada com que retratam a transição de gênero e músicas sem sentido no enredo. Vou pagar pra ver. Estou curioso! 

MARCO MATOS

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