quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025



13 de Fevereiro de 2025
CARPINEJAR

Por mais pirilampos em nosso tráfego

Será que o pisca foi suspenso em Porto Alegre? Será que não estou ciente de alguma alteração no código de trânsito gaudério?

Você está dirigindo de boa, e de repente os veículos vizinhos vão mudando de pista sem avisar, num zigue-zague frenético e intempestivo. Passam da esquerda para a direita, da direita para a esquerda, como se não estivessem acompanhados, como se a cidade se mostrasse deserta, antecipando a solidão das madrugadas nos horários de pico.

Entram numa garagem ou numa rua sem nenhuma advertência, do nada, numa existência viária vazia de sentido. Parece que todos os motoristas porto-alegrenses decidem de última hora, ou estão perdidos, ou não sabem bem o que fazer nem aonde ir.

Adivinhar as manobras alheias surpreendentes não requer uma direção defensiva, mas blindada. Você não desgruda um segundo do retrovisor. Pilota mais olhando para o retrovisor do que para frente. As laterais formam seu vidro dianteiro.

Tem que ser médium para não bater ou colidir com os desatinos imprevidentes. Não é que o pisca é acionado depois do movimento executado, ele sequer é concedido, numa travessia às cegas.

Às vezes, penso que ingressei em uma autopista de fantasmas. Os ectoplasmas surgem e desaparecem, e é você que está delirando e enxergando vultos. Para sair de casa, exige-se uma coragem sobrenatural. Será preguiça de dar a seta? Eu dou seta até na garagem. Até no momento de estacionar na minha vaga.

Por hábito. Pela força do hábito. Assim como o cinto, que somente desfivelo ao desembarcar.

O pisca se localiza perto do volante para ninguém ter trabalho ao utilizá-lo. Trata-se do antídoto da buzina. Dificilmente contará com a urgência de buzinar se todos ligarem o tradicional sinal luminoso. O sinal sonoro só é necessário em derradeiro caso, pela ausência do sinal luminoso.

Estamos consolidando uma nova cultura de desorientação. Os motoristas dirigem como se fossem pedestres. Como se estivessem caminhando. Alternam o lado impunemente, e contornam os obstáculos do mesmo modo que realizariam uma andança nas calçadas pelo bairro.

Passeiam com uma soberba distraída, com um egoísmo inconsequente. 

A crença é que estão a pé, donos de seus passos, e não conduzindo máquinas perigosas e mortíferas capazes de atropelar e provocar acidentes. Esquecem que são uma das peças dentro de um conjunto, que qualquer ato ignorado influencia as demais num tabuleiro complexo de ação-reação.

Dobram de repente, desprovidos de culpa se há alguém encostado em sua traseira. Quem se encontra atrás que redobre a vigilância e invente acrobacias. Na sinaleira, atravessam inesperadamente da faixa oposta, criando o maior tumulto e gerando freadas de inopino de seus colegas de ocasião.

Saem da inércia de uma vaga não relatando a entrada no fluxo. Não precisamos economizar sua luz, que o pisca seja usado para o mais inofensivo giro. A frequência não gasta energia, não consome bateria.

O pisca é pedir licença, o pisca é educação mínima, o pisca é oferecer tempo para o outro se preparar em troca de mais espaço. E não adianta depois piscar o olho para ser perdoado pela malandragem. _

CARPINEJAR

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